Decorre uma animada discussão na blogosfera (no resto do País nem por isso....) em torno da forma de ratificação do Tratado de Lisboa. "Tratado com ou sem referendo?", pergunta-se em tom de bitoque com ou sem ovo. Argumentos para cá, argumentos para lá (já aqui e aqui escrevi o que penso sobre o assunto, mas até aqui a Bóina é rica em opiniões), teremos de esperar até à assinatura do tratado para ver o que sucede. Mas há quem se esteja a esticar um bocadinho e comece a argumentar ao nível do Prof. César das Neves sobre o aborto. No Diário Económico de dia 29 retira-se esta pérola de João Marques de Almeida (via Sobre o Tempo que Passa e Hoje há conquilhas):
«O argumento que associa o referendo à democracia constitui uma séria ameaça aos princípios e instituições fundamentais da democracia representativa. Este ponto é claro quando se observa o recurso ao referendo por parte de ditadores. Hitler, por exemplo, era um grande adepto do referendo. Entre 1933 e 1938, o ditador nazi convocou quarto referendos. O primeiro decidiu retirar a Alemanha da Sociedade das Nações com 95% dos votos. O segundo, em 1934, reforçou os poderes de Hitler como Chanceler, com 90% dos votos. O terceiro, em 1936, confirmou a remilitarização do Reno, com 98,8% dos votos. O último ratificou a anexação da Áustria, com 99% dos votos. Conclusão: segundo aqueles que associam os referendos à democracia, a estratégia de conquista militar de Hitler foi um caso exemplar de “expansão democrática”»
Gosto muito de passagens como "Hitler era um grande adepto do referendo" (e do Clube Caçadores das Taipas também, ao que parece, mas nem sempre conseguia ir aos jogos) e "a estratégia de conquista militar de Hitler foi um caso exemplar de expansão democrática". Desde logo, sou fã incondicional da técnica argumentativa "se o Hitler fez é porque tem de ser mau". Se o senhor que escreveu as linhas transcritas não fosse membro do Gabinete do Presidente da Comissão Europeia eu quase me atreveria a dizer que isto podia ser ridículo ao ponto de ter alguma piada...
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