Das muitas coisas que se devem saber quando se faz política, destaco duas.
1. Os eleitores não são estúpidos: não é porque alguém afirmar dizer a verdade que toda a gente passa a concordar que a verdade é só o que essa pessoa disse. Quando acredito na minha verdade, apenas me é legítimo persuadir ooutro da sua bondade, não do seu carácter absoluto.
2. O discurso do homem que está fora do sistema, porque o sistema não gosta dele, já não pega. O eleitor sabe, mais tarde ou mais cedo, que um político é sempre alguém do sistema, porque até mesmo alguém (um guerreiro, digamos) que queira mudar o sistema, apenas o quer substituir por outro.
Santana Lopes apresentou um jornal de campanha intitulado «A Verdade», e um "programa de rádio" - o seu tempo de antena radiofónico - chamado «A Voz da Verdade» (que por acaso até é o nome de um boletim informativo da Igreja, distribuido à saída da missa...). Com isto, para além de perder uma oportunidade de passar uma mensagem política (e tentar convencer alguém de que se é uma vítima não é uma mensagem política) o PSD menorizou o eleitorado.
O mesmo fez Paulo Portas quando colou o seu partido à religião e acenou com o Anti-Cristo a aparecer à esquerda, a que se opunha o CDS, «o partido dos valores» - como se para além da direita mais ninguém tivesse valores. Parece que, de repente, os 60 581 que este ano não votaram CDS são almas perdidas.
Estes dois homens fizeram mal aos seus partidos, o que não me rala absolutamente nada.
Ganhar eleições assim é fácil. Enquanto a direita brincou com os eleitores, a esquerda fez o que lhe competia. Fez política, não fez birra.
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