terça-feira, fevereiro 22, 2005

A esquerda não-absoluta

O Bloco alcança com fulgor os seus objectivos, elegendo mais 5 deputados e conquistando cerca de 210 mil votos. Em metade dos círculos eleitorais (Aveiro, Bragança, Faro, Guarda, Leiria, Porto, Viana, Viseu, Açores e Madeira ) chega mesmo a destronar o PCP como segundo partido de esquerda, conseguindo nalguns casos ser a terceira força política (Faro e Coimbra). Contudo, a maioria absoluta do PS priva-o da possibilidade de desempenhar o papel de fiel da balança. Não sei se para tristeza ou contentamento dos seus líderes. Sem ter de se responsabilizar por actos de governação o Bloco pode manter o seu estilo, as suas bandeiras e o seu papel. Pode continuar a ser crítico em relação à política europeia e ao atlantismo. Pode, enfim, salvaguardar a sua radicalidade.

Pela primeira vez (se tudo correr como previsto) o Bloco cumprirá uma legislatura na AR e não beneficiará de uma dissolução parlamentar potenciadora de votos de rejeição e protesto. A dúvida que fica para as próximas eleições é a de saber até onde pode crescer o Bloco de Esquerda e quem será penalizado pelo seu crescimento.
O PCP aguentou. Como tem vindo a aguentar - o declíno é agora lento e, para já, a sangria eleitoral do decano dos partidos portugueses parece estancada. A vitalidade, honestidade e sinceridade simpática de Jerónimo de Sousa são um balão de oxigénio, mas não fazem desaparecer a tendência para a purga da opinião dissonante nem a ameaça do Bloco, que se afirma como a esquerda moderna e que ameaça e aspira ocupar o lugar aos comunistas. A perda do segundo lugar no quadro da esquerda é uma ameaça real, sendo a aproximação em número de votos a nível nacional (cerca de 70 mil de diferença) um indício forte. Os resultados na capital são elucidativos quanto ao perigo - no concelho de Lisboa o BE chega à frente do PCP enquanto no distrito apenas um ponto percentual os separam.

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