O PS assumiu a 20 de Fevereiro de 2005 a maior responsabilidade da sua história em Democracia. A dimensão da vitória implica que acarretará sozinho o lastro negativo das medidas impopulares que seguramente terá de tomar e aumenta também a fasquia ao nível dos resultados da governação. O novo partido maioritário tem pelo menos a vantagem de conhecer os vícios e defeitos do seu passado recente. A indecisão e vontade de agradar dos anos finais de Guterres ou a tentação de instalar as hostes partidárias na máquina do Estado devem ser acorrentadas. Contudo, o PS tem também de ter presente a existência de um vírus novo ao qual até agora tem sido imune, por força dos anteriores resultados eleitorais. A absolutite cavaquista e a sua tendência para degenerar em poder arrogante e autista é um perigo para todos os partidos investidos no poder maioritário. O PS sofreu na pele a ausência de diálogo e de civismo democrático durante a sua travessia do deserto, pelo que tem a todo o custo de evitar os erros dos outros. Há que aproveitar, dentro do possível, a pequena vaga de optimismo criada por uma inédita maioria de esquerda. Não se trata de lidar com o Bloco e com o PCP como iguais - o eleitorado foi claro na sua opção e por muito que alguns entendam que independentemente do resultado é o PS que tem de ir ao encontro das "suas" verdades, o PS tem um mandato inequívoco para o seu programa. O PS deve, porém, alcançar uma ampla base de apoio social para as reformas que se impõem, sendo o papel da restante esquerda parlamentar potencialmente importante - as relações do PCP com o mundo sindical ou a influência do Bloco nalguns meios académicos não devem ser ignoradas, antes utilizadas para construir consensos. |
Há também que deixar a porta aberta ao diálogo com o PSD, assim que este se libertar do jugo populista que agora o consome em querelas internas. Em matéria de política europeia e de relações externas é ainda ao centro que o equilíbrio se encontra e que a concertação de posições se deve ensaiar.
Os próximos dias são de expectativa quanto à equipa de José Sócrates, mas os sinais dados na noite eleitoral são já bastante positivos: manter o espírito de abertura a toda a sociedade que presidiu às Novas Fronteiras e procurar credibilidade e competência para as novas caras do Governo.
Sem comentários:
Enviar um comentário