sábado, março 14, 2009

E fez-se luz

Assisti hoje na Gulbenkian à “Criação”, de Haydn, com libreto rejeitado por Handel e baseado no Livro do Génesis, não os do Phil Collins que seria bem mais interessante, mas sim no livro da Bíblia (a que não é “A Bola”), sobre a Criação do Mundo em sete dias, acabando sensivelmente antes da prevaricação e consequente expulsão do Paraíso do Adão e da Eva.

Estamos perante uma peça musical brilhante, e uma excelente interpretação, que tem como única falha um libreto que, dado o tema e a inspiração, nunca poderia correr bem. E nunca poderia correr bem porque embora esteja levemente polvilhado de Iluminismo e Humanismo não deixa de louvar a submissão da mulher ao homem como único caminho para a felicidade ou condenar esse pecado mortal de “Querer saber mais que o devido”.

Estas passagens, que podemos encontrar na Bíblia de forma até mais primária, envenenam este texto desde a Criação (pau que nasce torto...) e dispensam qualquer nova exegese a reboque das exigências de uma Humanidade esclarecida pelos valores da Igualdade e do Progresso. Assim, nem pormenor divertido de Haydn ser maçom, nem a referência à não-aceitação, numa fase inicial, desta obra como música sacra por ser demasiado inovadora (típico), me permitiram fruir devidamente desta composição sublime.

Mas fez-se Luz porque nasceu a minha Filha, Clara, na semana passada. Esta Cidadã, espero, virá engrossar as nossas fileiras enquanto Cidadã laica e republicana (razão porque tem ouvido já ler Rousseau Voltaire, Saint Simon, Aquilino e o Ursinho Pooh).

A contrário de Deus aos seus filhos não lhe vou exigir que exista para louvar o meu nome, vou ensinar-lhe a ser Fraterna em vez de caridosa, a ser Igual e a exigir ser Igual aos homens que escolher e Livre de aprender tudo o que quiser.

A prova do meu compromisso com estas palavras fáceis é que estou disposto a que aprenda até a acreditar em Deus, se ela quiser, e a engolir toda “A Criação” por mais que me cheire a m... esturro. Sou capaz apenas de proibir o ingresso nos Escuteiros, também não exageremos na liberdade...

2 comentários:

Oppenheimer disse...

João

Os meus sinceros parabéns. Uma filha vossa só podia ser Clara, como a luz da Razão!

Quintanilha disse...

Parabéns. Não a deixe ver a Manuela Moura Guedes na TVI sem ela atingir a idade adulta.