Acho que já toda a gente leu estas declarações desagradáveis.
“Cautela com os amores. Pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem Alá sabe onde é que acabam.”
Não sei se me choca mais o racismo transparente desta afirmação, ou o tom naïf-paternalista, ou o remate humorístico-tontinho.
“Se eu sei que uma jovem europeia de formação cristã, a primeira vez que vai para o país deles é sujeita ao regime das mulheres muçulmanas, imagine-se lá”
O país "deles"?! A Muçulmânia?! "O regime" das mulheres muçulmanas?! Qual regime?! O regime turco das mulheres muçulmanas?! Ou o sírio?! Ou o saudita?! Ou o marroquino?! Alguém explica a Sua Majestade Patriarcal que não estamos no século XVII e que os turcos não estão prestes a invadir Viena? Já agora, "jovem europeia de formação cristã": trata-se de um desabafo ecuménico!!
“Só é possível dialogar com quem quer dialogar, por exemplo com os nossos irmãos muçulmanos o diálogo é muito difícil”
Curiosamente eu tenho ouvido avaliações bem mais positivas do diálogo entre a comunidade muçulmana em Portugal e outras confissões. Talvez não seja o caso com a ICAR. E, pela imprensa, fica-se com uma impressão de harmonia nas relações entre a comunidade muçulmana portuguesa e as autoridades da República. Mas Sua Santidade Patriarcal refere-se a quê afinal?
“Nós somos muito ignorantes, queremos dialogar com muçulmanos e não gastámos uma hora da nossa vida a perceber o que é que eles são. Quem é que em Portugal já leu o Alcorão?”, inquiriu. “Se queremos dialogar com muçulmanos, temos de saber o bê-a-bá da sua compreensão da vida, da sua fé. Portanto, a primeira coisa é conhecer melhor, respeitar”
Tem muita razão, Sua Senhoria Patriarcal! Quem é que em Portugal já leu o Alcorão?! Ninguém! E querem dialogar com os muçulmanos! O que virá a seguir?! Quererem dialogar com os judeus sem terem lido a Torá?! Ou mesmo, imagine-se, dialogar com os católicos sem ler o Evangelho!! Se queremos dialogar com os muçulmanos, temos que perceber como é que aquela gente pensa, e isso tá tudo no Corão. Porque o muçulmano, no fundo, é uma espécie de encarnação orgânica do Corão. Por isso é que o diálogo entre a ICAR e os que não têm religião foi tão difícil ao longo dos séculos: os pobres diabos não tinham Livro.
"A primeira coisa é conhecer melhor, respeitar".
Sua Alteza Patriarcal tem razão. Evidentemente já leu o Corão, porque as suas afirmações demonstram um grande respeito pelo Islão e pelos muçulmanos.
7 comentários:
gostei da muçulândia ;-)
Morando numa cidade onde 20% da população é muçulmana e conhecendo a realidade desta comunidade, sou obrigado a concordar com tudo o que o Cardeal Patriarca disse. Apesar de eu não ser católico nem judeu.
Porque é que é racista afirmar que se deve pensar duas vezes antes de casar com um muçulmano? Por sermos os dois pretos: eu uma cristã e ele um muçulmano?
E se eu fosse branca? Não percebo o que é que a raça tem a ver com isto, concordando ou não com o que foi dito pelo Patriarca de Lisboa...
Maria
Eu usei a expressão racista no sentido lato do conceito para condenar o juízo colectivo do Patriarca em relação aos membros de um grupo baseando-se apenas nas suas convicções religiosas. É verdade que islamofobia neste caso é um termo mais apropriado. Mas quando o Cardeal refere o "país deles" (dos muçulmanos) a islamofobia mistura-se com racismo num maravilhoso cocktail de preconceitos.
Maria
Eu usei a expressão racista no sentido lato do conceito para condenar o juízo colectivo do Patriarca em relação aos membros de um grupo baseando-se apenas nas suas convicções religiosas. É verdade que islamofobia neste caso é um termo mais apropriado. Mas quando o Cardeal refere o "país deles" (dos muçulmanos) a islamofobia mistura-se com racismo num maravilhoso cocktail de preconceitos.
Miguel
O seu comentário faz-me lembrar aquele pessoal que nos explica sempre que conhece bem os "pretos" porque vive na Damaia e "eles" lá só causam problemas. É-me indiferente se o Miguel vive numa cidade onde há 20%, 40% ou 80% de muçulmanos: não há comunidade religiosa, étnica ou nacional que não mereca ser vista no contexto cultural, geográfico, e histórico em que se encontra. Por outras palavras: "o muçulmano" indonésio é uma pessoa muito diferente do "muçulmano" sudanês. E o "muçulmano" indonésio de 2008 é muito diferente do "muçulmano" indonésio de 1908.
Vamos lá tratar isto mais a sério:
Sobre uma católica casar com um muçulmano: uma análise à luz do Ratzinguismo.
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