sexta-feira, janeiro 16, 2009

Ainda a patriarcada

Para mim, foi a adrenalina da plateia que inebria o artista-vedeta e o faz pensar-se um super-homem que levou ao disparate. Note-se como o cardeal estava colocado em palco: de pé, com a mão na anca, uma conceituada jornalista do mainstream ao lado a fazer-lhe perguntas (daquele tipo de perguntas que habitualmente faz), e uma plateia submissa de importantes frequentadores de um casino rindo às gargalhadas. Como não se achar o maior? Como não descambar para a graçola?
O cardeal ouviu a primeira gargalhada, não esperava, mas gostou. Ouviu a segunda, sentiu que tinha público. A partir daí foi gozar o seu imprevisto estatuto de artista de variedades. O cardeal parecia um actor de stand-up comedy, e o cenário o de um Levanta-te e Ri - ou, mais propriamente, de um Levanta-te e Reza. Isto explica o que terá levado o cardeal a descambar para a vulgaridade da forma como o fez, alienando muito do seu capital de simpatia enquanto figura tolerante e merecedora de confiança.
Mas há na substância das suas declarações um erro fundamental e recorrente quanto à forma de se ser cristão nos dias de hoje, e que também é comum aos sectores mais retrógrados do Islão aos quais o cardeal teve a insensibilidade de generalizar todo o praticante: o de se pensar que qualquer pessoa que professe uma religião defenderá integral e escrupolosamente tudo o que o clero define como doutrina, e que por essa razão se tornará um militante e um soldado ao serviço dos seus interesses, até às últimas consequências.
Felizmente, e mesmo apesar do carácter reaccionário dos "regiménes" que impropriamente foram chamados à colação, ser muçulmano não implica aquilo que o cardeal referiu. E ser católico também não implica pensar como o senhor cardeal queira que se pense.

1 comentário:

Anónimo disse...

A coisa em si tem piada, mas acho que devemos olhar mais para a parte final do post, e tratar isto duma forma mais sisuda:
Sobre uma católica casar com um muçulmano: uma análise à luz do Ratzinguismo.