segunda-feira, janeiro 19, 2009

Últimos argumentos de um anti-americano primário

A um dia da tomada de posse de Barack Obama, não resisto à tentação de partilhar este excelente artigo do Economist de balanço de oito anos de mediocridade agressiva e triunfante na Casa Branca.
A minha passagem preferida: "the three most notable characteristics of the Bush presidency: partisanship, politicisation and incompetence." (Eu acrescentava: "ódio pela Razão". Ou como dizia o Stephen Colbert: o triunfo da "truthiness" sobre a "truth". Do "gut feeling" sobre a reflexão.)
Há quem tenha precisado de mais de um mandato Bush, de um número infindável de notícias sobre o marasmo iraquiano e da maior crise financeira desde 1929 para chegar a esta conclusão - é o caso da rapaziada do Economist que fez parte do coro belicista em 2003.
Mas muitos de nós, modéstia à parte, sentiram muito depressa depois da chegada ao poder do gang Bush-Cheney-Rumsfeld que o que vinha aí metia medo. E foi por isso que não lhes demos o benefício da dúvida em 2003.
Esta administração representou tudo o que de pior têm os EUA. É como se em Portugal Alberto João Jardim se tornasse Presidente da República, Santana Lopes Primeiro-ministro e Paulo Portas Ministro da Defesa. Enfim, o triunfo da mediocridade. Impensável, claro.
Mas o pior de tudo foi assistir ao seguidismo desta lado do atlântico. Foi ouvir as lições sobre o que são os "verdadeiros EUA" por parte daqueles que hoje, completamente ultrapassados pelos acontecimentos e amargurados com a derrota épica de tudo o que representa o neo-conservadorismo americano, ficam reduzidos ao desespero do wishful thinking: "vão ver que o Obama não muda nada". Já mudou. Já sabemos que a competência voltou aos gabinetes em Washington.
Para aqueles entre nós que nunca acreditaram que Bush e a sua equipa mereciam ser defendidos só porque os rapazes do outro lado da barricada eram ainda piores; para aqueles entre nós que acham que a Europa e os EUA estão condenados a colaborar, mas não a qualquer preço; para aqueles entre nós que odiaram a era Bush com a mesma intensidade com que agora "amamos" Obama (e pelas mesmas razões); para nós, amanhã começa um novo capítulo de esperança. É piroso mas é assim mesmo.

Para mim, Obama tem o benefício da dúvida.
P.S: E mais, a última conferência de imprensa de Bush chocou-me tanto como a primeira. E eu a pensar que um gajo às tantas ganha calo contra a mediocridade arrogante. Mas não.

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