Excelente este curto 'Policy Brief' to European Council on Foreign Relations (ECFR), que descreve em detalhe os contornos de uma nova estratégia de envolvimento europeu no Cáucaso. Não sei se concordo com a defesa do aceleramento do processo de integração da Ucrânia no espaço euro-atlântico. Mas não restam dúvidas de que é preciso um envolvimento muito mais pró-activo da UE na zona do Mar Negro.
E por favor, chega de papagear a propaganda de Moscovo de que "vocês é que nos obrigaram a fazer isto por causa do Kosovo". Não tem nada a ver uma coisa com a outra. O Kosovo não é precedente: leiam o primeiro parágrafo da Resolução 1808 do CSNU de 15 de Abril deste ano (sobre a Geórgia) e comparem-no com a linguagem da Resolução 1244 (sobre o "future status" em aberto do Kosovo), em que se baseia a independência do pequeno país balcânico.
Onde é que no Cáucaso do Sul houve um protectorado (sui generis) das NU durante 8 anos? Onde é que os EUA (ou qualquer uma das outras potências ocidentais envolvidas na guerra de 1999) andaram a distribuir passaportes americanos aos kosovares para depois evocarem que se viam obrigados a "proteger cidadãos" deles (comos os russos fazem há anos na Abcázia e na Ossétia do Sul)? E o texto do ECFR acrescenta:
"Politically, the European Union cannot afford to allow the comparison with Kosovo to stand. Rather than claiming – as they have done in the past – that the situation in Kosovo does not create a precedent, EU leaders need to be explicit about what precedent it actually sets. NATO’s intervention in Kosovo followed a long period of oppression of the majority Albanian population, including massive displacement of civilians in the recent past, and came when all diplomatic avenues had been exhausted. The UN Security Council did not authorise the bombings, but recognised the existence of large-scale repression committed by Yugoslavia.
The Russian action in Georgia was different. It pre-empted any diplomatic attempts to resolve the latest crisis, and there was no independent evidence of the scale of humanitarian emergency that would have justified a large-scale military response across the whole of Georgia, though actions to protect civilians in South Ossetia were justified."
Tudo isto não contradiz o facto indisputável de que a Geórgia está nas mãos de um aventureiro irresponsável que mergulhou o país dele numa guerra brutal (com bombardeamentos indicriminados contra civis ossétios) e impossível de ganhar. E foi ele que começou, sim senhor. Mas eu lembro-me muito bem de outra guerra em que um dos lados começou e foi o outro que respondeu de forma desproporcionada e que, com isso, perdeu muita da razão e da legitimidade que tinha nos primeiros dias do conflito.
Foi o caso de Israel e do Hezbollah na guerra de 2006.
sexta-feira, agosto 29, 2008
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