quinta-feira, julho 31, 2008

O jornal diário português de referência II

Na página 14 do caderno principal do Público de hoje, 31 de Julho, uma jornalista explica que:

"A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos promulgou ontem uma resolução a pedir desculpa aos afro-americanos pela "injustiça, brutalidade e inumanidade da escravatura e do [período das leis] Jim Crow", mais de 140 anos depois de a escravatura ter sido abolida no país."

Muito bem. A primeira tristeza vem logo no segundo parágrafo. A jornalista diz que "o jornal El Mundo notava ontem que é a primeira vez que uma entidade federal norte-americana pede perdão pela escravatura que os negros americanos sofreram no país." Desde quando é que o jornal El Mundo é uma referência em história política americana? Então o Público não encontra fontes americanas para sustentar esta importante afirmação? Não, porque para isso era preciso investigar um bocadinho no Google e não há tempo.

E depois, esta passagem deliciosa:

"Eles (a Câmara dos Representantes) têm mais autoridade neste assunto do que o Congresso norte-americano", disse Cohen [o Representante que propôs a resolução em causa] ao diário Washington Post."

A menina que escreveu este artigo não só não sabe que a Câmara dos Representantes é a câmara baixa do Congresso americano (como o Senado é câmara alta), como foi demasiado preguiçosa para tirar o nariz do El Mundo e ir ver a notícia original do Washington Post que, como é mais do que evidente, não diz nada do que ela diz que disse.

A notícia do Washington Post de dia 30 de Julho diz, isso sim, o seguinte:

"Several states, including Virginia, North Carolina, Florida and Alabama, have issued apologies for slavery. "They had a greater moral authority on this issue than the United States Congress," Cohen said."

Que miséria: o Público publica uma notícia dia 31 de Julho sobre uma história que saiu no Post de dia 30 de Julho, e ainda por cima nem sequer se dá ao trabalho de se debruçar sobre a fonte original, preferindo ir buscar a papinha feita ao El Mundo. E depois são tão medíocres que nem uma citação em espanhol conseguem reproduzir como deve ser...

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