sexta-feira, maio 16, 2008

O Oráculo de Belém


Cavaco Silva lançou o debate sobre o interesse e a participação dos jovens na política, convocando as juventudes partidárias num contexto de assumir as responsabilidades que estas têm no assunto.

Boa!

Não digo que seja a primeira ou a única, mas foi uma oportunidade de ver o Presidente da República a dizer mais do que as habituais generalidades e banalidades simpáticas e sempre superficiais sobre os assuntos, declarações daquelas em que é impossível não concordar, mas também impossível ver qualquer coisa de inspirador. É bom ver isso num Presidente que até agora só se conseguia entusiasmar com perorações alongadas de especialista em economia e com análises macro-económicas que, embora o deixassem com os olhos iluminados, constituíam momentos de interminável bocejo para os que o escutavam.


Cavaco Silva saiu-se realmente bem, porque a sua intervenção foi consistente e sumarenta, e eu fiquei satisfeito por o ver ter este tipo de iniciativa. E, confesso, senti-me satisfeito por ter algo de positivo a assinalar-lhe. Nem me parece ter causado ofuscação a polémica do não convite à jota do Bloco de Esquerda, sob o argumento (realmente muito frágil) de não ter organização de juventude autónoma, de tal maneira amuada pareceu a reacção do jovem bloquista que respondeu.
Até que o Governo revê em baixa as perspectivas de crescimento económico, e o Presidente é perguntado sobre o assunto. Ressurge então o homem dos números, brilhozinho nos olhos a dar o seu parecer de académico. Cavaco não resiste a desenvolver e a falar em economiquês, e fala, fala, referindo as suas anteriores previsões sobre o assunto e terminando a confortar os portugueses com uma mensagem de optimismo. Foi isso que os portugueses quiseram ao elegê-lo: um economista que governasse da Presidência, porque nada melhor para o estado em que o país está do que alguém que perceba de números. Mesmo que a função não tenha qualquer poder executivo ficamos mais descansadinhos por isso. Elegemos um Alan Greenspan para sabermos para onde vamos.
E é assim o nosso Presidente: governante opinativo na reserva todos os dias; líder inspirador só às vezes.

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