Mas não se entusiasmem. É só um governo "interino" até Março e que pode apenas representar um intervalo na crise política, dando alguma estabilidade à governação até que haja entendimentos definitivos entre os diversos partidos. É também verdade que é uma formação cheia de peculiaridades. Senão vejamos.
Em primeiro lugar, o primeiro-ministro será o até aqui cessante Verhofstadt, que perdeu as eleições de Junho, enquanto um dos vice-primeiro-ministros será Leterme, o vencedor das eleições de Junho. Os socialistas, que perderam o primeiro lugar na Valónia, acabam por integrar o Governo, quase que confirmando a profecia de que não se governa a Bélgica sem o PS. Aparentemente não basta ganhar, há que saber gerir a vitória.
Em segundo lugar, o anúncio de que se trata de um período de espera até à Páscoa, para permitir a Leterme negociar o que falta e poder assumir funções de primeiro-ministro em Março é demolidor para as suas capacidades políticas - não só falha durante 180 dias o que Verhofstadt consegue (interinamente, é certo) em duas semanas, como ainda fica sob a sua tutela durante os próximos três meses.
Finalmente, o governo "pentapartidário", composto por liberais flamengos (3 ministros) e liberais valões (3 ministros), cristãos-democratas flamengos (4 ministros) e cristãos-democratas valões (1 ministro) e socialistas valões (3 ministros) afigura-se como tudo menos pacífico. Para além de nos bastidores continuarem as negociações para preparar o próximo executivo, as relações entre os diversos partidos continuaram tensas e o equilíbrio parece ser precarário (desde logo, o empate a 7 entre francófonos e flamengos na distribuição das pastas apenas mascara a profunda divisão que o sistema político atravessa).
Instável, com uma legitimidade no mínimo curiosa e com prazo de validade, sempre é melhor ter este do que não ter governo nenhum. Ou será que não?
Sem comentários:
Enviar um comentário