A língua é uma realidade viva e evolutiva. A língua portuguesa, por seu turno, há muito que deixou de pertencer aos Portugueses - partilhamo-la com mais 200 milhões de falantes nativos pelo mundo fora, a sua esmagadora maioria no Brasil. Por alguma razão já não escrevemos pharmacia e o dicionário da academia optou por passar a referir o dossiê e o lóbi, em vez das versões com grafia estrangeira (que eu teimosamente insisto em utilizar). Assumo por isso que o acordo é uma oportunidade, uma momento de vitalidade da língua, uma forma de aproximar as pátrias da língua portuguesa, parafraseando Pessoa (cujo falecimento, aliás, ocorreu no dia de hoje, há 72 anos). A polémica é quase sempre inevitável - assim foi na Alemanha com a última reforma ortográfica, mas tal não obstou à sua entrada em vigor.
Já agora, este post foi escrito usando as novas regras, as que ainda não entraram em vigor. Repararam nas diferenças?
4 comentários:
Sou totalmente contra o acordo ortográfico, mas ao menos trata-se da Assembleia da República a decidir.
Pelo contrário, não reconheço qualquer tipo de legitimidade aos empoeirados da academia para decidirem como é que eu escrevo. A língua é do povo, não é deles.
Já agora, o que tens contra o acordo?
1. Razão acessória e pouco ou nada importante:
Acho um contrasenso absoluto termos que mudar seja o que for por causa do Brasil.
2. Razão absolutamente essencial:
Isto é mais um dos comportamentos ridículos que se gosta de fazer em Portugal por mimetismo do que se passa em França. A própria ideia de lusofonia é virtualmente copiada das ideias ridículas de francofonia com tudo o que lhes está associado.
A língua portuguesa não perde rigorosamente nada em ter grafias diferentes. Aliás, cada vez mais a lógica é esta: quem está na Europa e em África quer aprender português europeu (ou euro-africano, tanto faz), e quem está nas Américas o brasileiro...nas Ásias depende...).
Quem quer aprender português sabe desde logo das enormes diferenças entre as duas variantes, das quais a ortografia nem é das mais importantes.
Portanto, isto é uma total perda de tempo. Que não defende a língua. Pelo contrário, que até ganha outro charme em termos de uma ainda maior diversidade...
Todas as reformas ortográficas impostas por via legal empobrecem a língua - já desde a de 1911, a tal que eliminou o ph.
Tirar às palavras as marcas da sua história é privá-las da sua dimensão temporal, é roubar-lhes o passado e fazer delas uns farrapos sem consistência, sem espessura e por fim de contas sem outro significado para lá da utilidade imediata.
Bem fazem os países de língua inglesa que fixam a ortografia, não através de leis, mas da autoridade própria de gramáticos e lexicógrafos. Mas entre nós, como na França e na Alemanha, quem não tem autoridade própria pede emprestada a do Estado.
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