segunda-feira, outubro 29, 2007

Efeito K

Os resultados preliminares confirmam a vitória de Cristina Kirchner nas presidenciais argentinas, sem necessidade de segunda volta. Marcado por grande apatia eleitoral, devida em grande parte à quase certa vitória de Cristina na primeira volta e por alguma desorganização do processo eleitoral, o resultado passa ainda pelo reforço da maioria peronista no Senado e pela conquista de maioria absoluta no congresso dos deputados.
A sucessão ao marido, revela a provável génese de uma nova dinastia eleitoral, apostando vários analistas numa nova troca em 2011, com Nestor a suceder a Cristina. A nova presidente será a segunda mulher a ascender à Chefia do Estado, depois de Isabel Perón vice-presidente do seu marido, Juan Péron, lhe ter sucedido quando este morreu. As semelhanças ficam-se por aí: esta sucessão é por via eleitoral e Cristina, já senadora, tem um papel político central que a viúva de Péron nunca almejou. No entanto, a linha política do casal é justicialista (tudo e nada, portanto...) e o espectro de Evita pairou sobre a campanha, o que me permite formular as reservas habituais a este modelo de populismo...

A curisosidade final a apontar respeita ao sistema eleitoral argentino, que dispensa a segunda volta se o candidato colocado em primeiro lugar obtiver mais de 45 % dos votos ou se alcançar os 40% e tiver obtido uma diferença de mais de 10% face ao segundo colocado. Segundo indicam as mais recentes projecções, Cristina Kirchner terá cerca de 43% dos votos enquanto a provável segunda colocada, Elisa Carrió, está na casa dos 23% e Roberto Lavagna, o terceiro, tem cerca de 18%. Ou seja, os dois candidatos mais votados a seguir à vencedora quase igualam o seu resultado. Tendo em conta que Nestor Kirchner foi eleito com pouco mais de 20% dos votos depois da desistência de Meném, este resultado vem finalmente legitimar eleitoralmente a linha política do actual presidente, cujo rumo será mantido pela nova presidente. Mas para quem está habituado ao escrutínio maioritário clássico, fica no ar a questão sobre quais se seriam os resultados se houvesse segunda volta...

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