sexta-feira, setembro 07, 2007

Licantropia


Já me enjoa um bocado tanta bajulação e engraxação à volta da selecção nacional de futebol. Graças aos bons resultados e àquele apresentador puxa-saco da RTP que faz programas de trivialidades ao Domingo à tarde e manifestos televisivos de propaganda nacionalista pífia, graças também à personalidade do sargentão, arvorado em comandante das tropas e ideólogo do nacionalismo dos outros, que os jogos da selecção dexaram de ter aquele encantador apelativo de sofrimento e sacrifício que era recompensava com uma vitória no jogo qualquer adepto fiel e leal como eu. Só visto. Agora que temos de nos resignar a uma selecção pop, custa mais torcer e sofrer depois de anestesiados com toda a espécie de programas televisivos de antecipação do jogo, de passatempos para ganhar uma camisola, de entrevistas aos jogadores em que a triteza confrangedora de quem não tem nada para dizer é espremida à exaustão para uns largos minutos de televisão sem qualquer substância mas com muita audiência. Onde estão os tempos maravilhosos do Euro 2000, em que a paixão era genuína? Ainda tivemos os bons resultados e as exibições. Agora, que temos de puxar novamente da calculadora para fazer contas ao apuramento, ficamo-nos com a bajulação. Saímos a perder. Só o Benfica ainda é o que era.
De maneira que eu, sem deixar de ser fiel ao beautiful game, vou dar-me descanso dele por uns tempos e deixar que a minha ansiedade se ocupe antes da selecção de râguebi. Os Lobos conseguiram o apuramento para um mundial em França quando o futebol não foi competente para fazer o mesmo em 1998. A emigração está contente lá, e isso é bonito. É certo que esta selecção de râguebi representa pouco mais do que a classe beta do eixo Lisboa-Paço d'Arcos-Cascais; é certo que isto é gente que se apresenta com dois apelidos, cheios de pedigree, a seguir ao nome; é certo que são primos de José Manuel Durão Barroso. Mas também é verdade que: 1) o râguebi é uma modalidade lindíssima e relativamente preservada de todas as manhas que desvirtuam a verdade desportiva; 2) se é para a matemática, que sejam contas simples de fazer, do tipo «perder por menos de 100 pontos contra a Nova Zelândia»; 3) os rapazes esmifraram-se até às últimas para lá estar, mostrando que, ao contrário do que é habitual, exemplos de trabalho, sacrifício e abnegação também podem vir das classes altas O mundo anda virado ao contrário. Eu, enquanto plebeu, congratulo-me por isso.
Por outro lado, é importante protestar: a Sporttv açambarcou a competição para o lucro do pay-per-view. Foram tomadas medidas para impor que os jogos das equipas nacionais em competições internacionais fossem transmitidas em sinal aberto, como sucede com o mundial e o europeu de futebol e com a Liga dos Campeões e a Taça UEFA. Por que razão o mesmo não se estendeu ao mundial de râguebi? Encaminhem o vosso protesto para aqui: info@erc.pt.

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