domingo, julho 01, 2007

Ainda o Túnel

O Expresso decidiu fazer na edição desta semana uma apologia do túnel do Marquês apresentando em destaque um argumento que muito me espanta - "Bateram-se recordes de veículos à hora de ponta". Posso admitir a minha ignorância se me apresentarem argumentos válidos mas parece-me que o objectivo mais sustentável para a cidade seria conseguir precisamente bater os records inversos.
O artigo reconhece que, apesar dos testemunhos favoráveis dos mui lisboetas senhores do Estoril, de São Marcos e de Linda-a-Velha, "alguns académicos apontam a existência de congestionamentos em certos troços (eixo Avenida Fontes Pereira de Melo – Avenida da Liberdade) dentro da cidade".
O artigo será tendencioso mas, sendo real, a questão permanece não na negação do aumento geral de bem-estar da população da AML mas nos encargos em que incorreu a Câmara de Lisboa para construir um Túnel com o qual os seus cidadãos são apenas marginalmente beneficiados.
Devemos ficar contentes por se baterem records de tráfego? Sugiro antes que os Presidentes de Câmara de Oeiras e Cascais façam uma vaquinha para repor a verdade dos factos e que os cidadãos beneficiados contribuam com 10% do tempo ganho nas obras de reabilitação da Baixa Pombalina.

3 comentários:

Rui Silva Freire disse...

Vejo alguns problemas com essa lógica de o Túnel beneficiar as pessoas de Oeiras e Cascais e, consequentemente, haver algum dever moral dessas Câmaras em contribuir para Lisboa.

1) Tempo ganho por pessoas que vêm de Oeiras/Cascais para trabalhar em Lisboa reflecte-se nas empresas que estão em Lisboa a contribuir (bem mais que os cidadãos individuais) para as finanças autárquicas.

2) Não sei exactamente de que fontes e em que medidas vem o financiamento local mas parece-me apenas lógico que a capital do país tenha bons acessos, venha o dinheiro de onde vier.

3) Seguindo esta ideia de contribuição, deveríamos começar a pedir à Câmara de Lisboa para pagar 10% (ou outro valor arbitrado para o efeito) das excelentes infra-estruturas existentes em Oeiras que servem os milhares que todos os dias saem de Lisboa para trabalhar no Tagus Park, Lagoas Park, Quinta da Fonte, etc..

4) Falando em contribuições, tenho visto grande investimento nas praias e zonas marítimas de Cascais. A par disso vejo muito trânsito na Marginal com montes de Alfacinhas que vêm beneficiar destas praias no Concelho de Cascais – se calhar o António Capucho devia começar a cobrar portagem à entrada de Carcavelos.

Dizer que o Túnel do Marquês favorece mais Oeiras e Cascais do que Lisboa é redutor e conjectural. Redutor porque o bem-estar dos portugueses, sejam de que Concelho forem, é mais importante do que saber quem ganha com o quê e conjectural porque se ainda estamos longe de saber os benefícios que o Túnel pode realmente trazer a Lisboa, mais longe ainda estamos de compreender os seus efeitos macroeconómicos na Grande Lisboa.

Pimenta disse...

Agradeço o comentário, tenho pena se dei uma impressão bairrista e não pretendo alimentar qualquer diferendo do tipo Lisboa vs Cascais ou Oeiras. O objectivo das sugestões da vaquinha e do trabalho cívico era apenas pela piada e originalidade.

Reforço que o único ponto realmente sério que tento fazer neste post é sobre a necessidade que havia (e ainda há) de dar prioridade máxima à Reabilitação Urbana de Lisboa para que mais pessoas, que queiram, possam vir viver perto dos seus locais de trabalho e contribuir para a revitalização da Cidade.

Pedro Delgado Alves disse...

O Túnel foi apresentado pelo seu proponente, PSL, como uma forma de descongestionar o trânsito em Lisboa: o que a prática revela é que aumentou o congestionamento em duas das principais artérias da cidade, piorando o trânsito dentro da cidade. A circulação na Avenida Fontes Pereira de Melo é uma clara vítima do túnel.

A isto acresce o facto de a notícia do Expresso que desencadeou este post se ter limitado a ignorar a principal objecção ao túnel: o facto de potenciar a circulação automóvel dentro da cidade com custos negativos para o meio ambiente e para a qualidade de vida dos cidadãos de Lisboa.

A celeridade em chegar a Lisboa não se pode fazer à custa da qualidade de vida de quem habita e de quem trabalha na cidade, como se fosse um valor absoluto que não tem de estar em equilíbrio com os demais. Como refere o João, a solução para os problemas de trânsito não passa por despejar os carros mais depressa no centro da cidade: passa por atrair de novo as pessoas para o centro da cidade e em apostar em transportes públicos de qualidade para aqueles que continuarem a residir fora do concelho onde trabalham.