(Simpático cartoon de 1967 - antes da Guerra dos Seis Dias - mostrando o Presidente do Egipto, Gamal Abdel Nasser, delicadamente indicando a um cidadão israelita o caminho para o mar; atrás do amável Nasser, a Síria, o Líbano e o Iraque - sempre prestáveis - preparam-se para ajudar no que for preciso)
Faz amanhã 40 anos que Israel deu o primeiro tiro da Guerra dos Seis Dias. Uma guerra de legítima defesa cuja legitimidade poucos questionam hoje em dia.
Expulsão da força de interposição das Nações Unidas (UNEF) do Sinai a 19 de Maio e imediata remilitarização da península pelo exército egípcio; bloqueio do estreito que dá acesso ao Golfo de Aqaba a 22 de Maio e consequente exclusão da navegação de/para Israel; assinatura de um pacto militar entre o reino da Jordânia e o Egipto a 30 de Maio, e colocação do exército jordano sob comando de um general egípcio (a Jordânia formava assim o terceiro vértice de um pacto tripartido entre Jordânia/Egipto/Síria); aumento significativo da retórica ameaçadora, especialmente da parte do Presidente egípico Nasser, líder de um movimento pan-árabe no seu zénite: se acrescentarmos isto tudo à evidente vulnerabilidade estratégica de Israel - sem obstáculos naturais que o protegessem dos seus vizinhos - rapidamente concluímos que o ataque israelita era inevitável.
O pior foi depois. Se é verdade que nenhum dos vizinhos de Israel estava disposto a fazer a paz depois desta derrota humilhante, o mais tardar depois de assinar a paz com o Egipto em 1979 (nesse mesmo ano, o Egipto de Sadat foi expulso da Liga Árabe durante 10 anos por ter assinado a paz com Israel...), Israel devia ter embarcado numa tentativa séria de normalização diplomática com os seus vizinhos - nomeadamente com a Jordânia - no sentido de pôr fim à ocupação dos Golã, da Cisjordânia e de Gaza. Jerusalém-Leste será sempre complicado... Lendo a biografia de Moshe Dayan (Chefe do Estado Maior das Forças Armadas israelitas durante a guerra do Suez e Ministro da Defesa durante as guerras dos Seis Dias e de Yom Kippur), publicada em 1978, facilmente se detecta as contradições da posição israelita pós-1967: por um lado, reconhecimento da situação de "ocupação" dos territórios palestinianos, por outro, paternalismo em relação aos palestinianos e a satisfação de dar a Israel mais terra e fronteiras mais defensáveis. E o resto da história nós conhecemos. Em vez de se ver livre dos Territórios Ocupados de uma posição de força antes das duas Intifadas, Israel vai ser forçado a fazer concessões num estado de exaustão, isolamento, e desunião interna sem precedentes. A Ocupação e os colonatos são um cancro. É preciso acabar com ambos. Já.
Para os néscios que acham que acabando a ocupação dos Territórios, árabes e israelitas vão ser felizes e vai haver paz no mundo (sim, porque tudo, desde as aspirações atómicas do Irão, até à ditadura na Síria são por vezes apresentados como produtos da ocupação israelita), uma pequena nota de rodapé: nos 18 meses antes da Guerra dos Seis Dias de 1967 que iniciou a tal ocupação, grupos palestinianos, liderados por um tal Yasser Arafat, e atacando a partir de bases na Síria e na Jordânia, levaram a cabo cerca de 120 operações de "sabotagem", a vasta maioria destas contra civis israelitas. Antes de '67. Antes da ocupação dos Territórios por parte de Israel. Claro que podemos discutir a legitimidade da "resistência" palestiniana mesmo contra o Estado de Israel nas fronteiras internacionalmente reconhecidas, as do armistício de 1949. Podemos discutir muita coisa. Só estou a tentar demonstrar que a ocupação de '67 não foi nem o ponto de partida da instabilidade na região, nem a origem de todas as injustiças; e que o fim da ocupação israelita não vai transformar a região numa Escandinávia com ruínas antigas e sol.
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