quarta-feira, maio 02, 2007

Panos e nódoas II - Don't play with my UK

'Gay Muslims at Pride 2005' (Londres)

Ainda em relação a este post revanchista queria acrescentar o seguinte ao que o Pedro disse.
Para começar, acho engraçado que em Portugal, da mesma maneira que o PC foi incapaz de se reinventar como esquerda moderna, afastando-se explicitamente dos conteúdos e do estilo de antes de 1989 (como outros PCs europeus fizeram), alguma Direita portuguesa ainda está a lamber as feridas de 1974 e continua a não conseguir aceitar genuinamente a herança de Abril.

Felizmente que esta Direita Miguelista-católico-nostálgico-marialva-monárquica é tão relevante do ponto de vista eleitoral-demográfico como os simpáticos Adventistas do Sétimo Dia. Mas fazem muito barulho (especialmente no ISCSP e na Católica), têm blogs e mantêm aceso o Kulturkampf português. Um dos elementos mais bizarros da ideologia retro desse grupúsculo é o amor pelo Reino Unido, ou como muitas vezes preferem chamar-lhe, pelo 'Reino de Sua Majestade'. Ora leiam com atenção. Eu cá não percebo: quatro anos em Inglaterra deixaram-me uma impressão de genuína modernidade, tolerânica, amor pela diversidade, ausência total da religião da vida pública, pragmatismo e crença fanática no poder transformador da Democracia e do Progresso - tudo embrulhado numa estética e numa forma monárquicas. Se fui para lá um francófilo inveterado, saí de lá rendido à mitologia política britânica, whatever that means. (Mas Dia da Bastilha há só um!) Os debates nos Comuns no século XIX, liderados por gigantes como Canning, Peel, Palmerston e Gladstone revelam mais profundidade Democrática do que a anémica Assembleia da República portuguesa de agora.

Deve ser a luta titânica com a França nos séculos XVIII e princípio do século XIX - e a mitologia da competição franco-britânica que ficou - que tanto fascina a Direita nostálgica portuguesa (que é francófoba, acima de tudo). Esquecem-se que o Reino Unido se opôs a todo e qualquer projecto hegemónico na Europa continental, independentemente do estandarte: espanhóis, franceses, alemães, habsburgos, bourbons, republicanos, bonapartistas, imperialistas alemães, nazis, não interessava.
A França e a Inglaterra representam projectos de modernidade talvez divergentes, o primeiro assente na República total, o segundo na republicanização dos conteúdos e na erosão gradual do poder da Coroa (ainda que mantendo a forma monárquica - the trappings of Monarchy): mas ambos representam o total oposto dos valores de alguém que acha que o 28 de Maio merece ser assinalado e que tem sentimentos ambivalentes (senão mesmo hostis) em relação ao 25 de Abril e ao fim da Ditadura.

5 comentários:

Anónimo disse...

Direita Miguelista-católico-nostálgico-marialva-monárquica...e Sidonista, sff! Sidonista!

E para que saiba, nós somos imensos. Imensos. Mais ou menos dois.

um abraço amigo

Deus (o outro)

Anónimo disse...

ate podem so existir dois envagelistas do 7º dia... Mas esses grandes senhores que descreveu comod e direita, miguelistas e Catolicos são mais do que pode pensar. Acredite que é verdade!

Não somos assim tão poucos


João

Anónimo disse...

Caro João,

D. Miguel desceu da barca
sua Mãe lhe deu a mão
- anda cá querido filho
e renega a constituição!

um grande bem-haja!

Deus (o outro)

Anónimo disse...

Quem sabe sabe... quen não sabe ... faz de conta.

João

Anónimo disse...

E se fosse miguelar para outro lado, tipo Évora-Monte ou Viena?