quinta-feira, maio 31, 2007

O liberalismo soft e a propaganda reaccionária

Partindo deste post de Filipe Melo Sousa, indicado via Insurgente, desencadeou-se uma troca de impressões em posts e comentários que podem acompanhar aqui, aqui, aqui, aqui e aqui e que me parece reveladora da grande desorientação ideológica de algum auto-proclamado liberalismo, muito em voga nalgumas áreas da blogosfera.

A dada altura escrevi num comentário que "o cartaz em causa promove o respeito pela diversidade, a não discriminação e o combate à homofobia, valores acolhidos pela sociedade democrática como fundamentais - seja na Constituição, na Declaração Universal dos Direitos do Homem ou na Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Um cartaz de um partido que promovesse uma mensagem racista ou homofóbica, para além de violar a lei penal, negaria os valores de inclusão e de respeito pela igualdade que caracterizam a democracia. Eis a relevância dos quadros axiológicos das ordens jurídicas democráticas - permitem distinguir o lícito do ilícito."



Volto a tentar colocar a tónica no que está em causa: campanhas de combate à discriminação e protecção de direitos fundamentais. Mas penso que é uma tentativa inglória - André Azevedo Alves e Filipe Melo Sousa recusam aceitar como premissas da discussão elementos que eu considero pressupostos da sociedade democrática e do consenso axiológico que a estrutura: existem valores fundamentais, cuja protecção e promoção cumpre ao Estado assegurar. Que tais ideias causem arrepios a alguns cidadãos e cidadãs, é uma questão de convicções. Convicções essas, aliás, que República respeita (daí que aludir a thought-crimes seja despropositado e falacioso) e defende através dos tais mecanismos totalitários kim-il-sunguistas que vos fazem confusão.

Contudo, diria ainda que aquilo que é descrito como um desolador pântano de politicamente correcto, assolando as sociedades ocidentais, não é na verdade contraditório com o ideário liberal. Releiam (ou leiam...) John Stuart Mill e provavelmente ficarão surpreendidos em encontrar a afirmação de que existem limites às liberdades individuais e que o poder pode ser exercido contra a vontade dos próprios quando estes invadem a esfera de terceiros. Mais surpreendidos ficarão ainda se forem ler o que este perigoso progressista escreveu sobre a emancipação das mulheres em On the Subjection of Women. Pois é, Stuart Mill é mesmo apontado como o fundador do feminismo científico, outra das muitas manifestações do totalitarismo do politicamente correcto na linha dos meus interlocutores.

Aqui ficam uns cheirinhos:

"That principle is, that the sole end for which mankind are warranted, individually or collectively in interfering with the liberty of action of any of their number, is self-protection. That the only purpose for which power can be rightfully exercised over any member of a civilized community, against his will, is to prevent harm to others.
[...]

The only part of the conduct of any one, for which he is amenable to society, is that which concerns others. In the part which merely concerns himself, his independence is, of right, absolute. Over himself, over his own body and mind, the individual is sovereign."

— John Stuart Mill,
On Liberty

"The moral regeneration of mankind will only really commence, when the most fundamental of the social relations is placed under the rule of equal justice, and when human beings learn to cultivate their strongest sympathy with an equal in nights and in cultivation."

— John Stuart Mill,
On the Subjection of Women

1 comentário:

Anónimo disse...

simplesmente nojento

ass: alguem muito diferente dos bichos do cartaz