quinta-feira, maio 31, 2007

Agora eu, agora eu...

O post em questão parece andar ali à volta de muita coisa, para chegar não se percebe bem a quê. O que irrita verdadeiramente Filipe Melo Sousa?
O Estado promove o progresso e isso implica «a imposição aos demais de uma elite dirigente “iluminada”, que ensine à população leiga aquilo que se deve moralmente entender por progresso»? Mas então o que é a legitimidade democrática para governar decorrente do sufrágio de um programa de governo em eleições democráticas?
«O próprio conceito de progresso é algo com significado diferente para diferentes pessoas». Obrigadinho, não estava sensibilizado para o facto.
«Quem se considere liberal não vai de certeza consentir num estado que dê lições de moral». Concordo. Aliás, a candura da afirmação não podia suscitar-me outra opinião, e a Boina é um blog laico. Mas promover a não-discriminação e a liberdade de professar uma opção de vida, é moralismo?
O cartaz é da JS, não do Estado, e invocar a relação de sucessivos financiamentos que vêm do Estado para o PS e daí para a JS parece-me tão rebuscado como pedir de volta o dinheiro dos impostos com os quais o Estado subsidia a construção de pavilhões desportivos onde se praticam desportos de que não gosto.
Tornou-se moda rebaixar qualquer coisa qualificando-a de "politicamente correcto". Ou seja, tornou-se politicamente correcto atacar o politicamente correcto. E um pouco de argumentação, não?
Há quem aos 15 anos se considere anarquista. Não que se tenha presente qualquer noção de propriedade ou de poder do Estado que urja eliminar, mas porque aos 15 anos sente-se a necessidade de afirmar a nossa individualidade contra qualquer imposição externa vinda de qualquer poder, institucional ou familiar, e a chamarmos a isso qualquer coisa, chamamos anarquia. Depois crescemos, apanhamos umas patacoadas do ar e somos liberais. Ou seja, basicamente, "eu sou liberal porque gosto da liberdade e acho que o Estado não me deve dizer o que fazer, nem, já agora, insultar-me ao dar cabimento à expressão de modos de vida com os quais não me identifico nem quero ter nada a ver, eles que paguem para isso, e também se devia acabar com essa coisa de eleições que custa balúrdios e não leva a lado nenhum".

1 comentário:

Filipe Melo Sousa disse...

O financiamento público do cartaz é um facto. Um accionista pode deter uma empresa, quer directa e nominalmente, quer através de sucessivas holdings que terminam numa empresa sediada num paraíso fiscal de modo a trocar as voltas ao fisco. Aqui passa-se o contrário: é o fisco que aparentemente ludibriou certos espíritos menos esclarecidos, escoando o seu espólio através de filiais sucessivas.

Quanto à aplicação do dinheiro: não concordo. É precisamente aí que o estado teria obrigação de cortar. Quer no financiamento dos partidos, quer directamente em acções de moralização do cidadão. O indivíduo é moralmente soberano. Quem defende que deveria ser de outra forma, não é de certeza liberal.