Já vi o Sol. Não quando ele nasceu, porque não chegou à minha habitual banca de jornais (assim se demonstrando que o Sol, quando nasce, nem sempre é para todos), mas graças aos bons ofícios de uma colega que mo ofereceu depois de o ler, sabendo da minha mania de coleccionar jornais.
Do Sol esperava-se um jornal à imagem do seu criador e, conhecendo o seu criador daquilo que ele dizia no Expresso, eu antevia o pior - e o pior aconteceu, como eu esperava.
O Sol está sempre a olhar para os que estão ao lado: logo na capa "um jornal que vale por si/este semanário não oferece brindes nem faz promoções"; lá dentro, outras miradas de soslaio, de onde se destaca o Cão Traste como a piadola dos DVD's.
Do seu criador o Sol herdou o ego astronómico, olhando de soslaio para a concorrência, não deixando de sublinhar em esparsos apontamentos a notícia do seu nascimento, o seu significado para o país, anunciando desde já o que é de esperar para os próximos números: as confissões do seu pai sobre como saiu do Expresso. Ficamos a saber que a lavagem de roupa suja está para durar, como se esperava.
É notório o copianço do Independente, até pela inclusão (que é de saudar) do Cãotraste, de Augusto Cid, mesmo que para continuar a sanha de vingança do querido líder (o Cão que conta vender jornais só porque oferece DVD's). Mas a subjectividade e criatividade dos títulos e da composição das notícias sai pífia quando comparada com a do defunto, e colando-se ao modelo do 24 Horas. É um jornal mais preocupado com ser engraçado do que ter graça.
É um jornal gordo, em que as letras dos títulos enchem demasiado a página, como a querer sair para vir agarrar leitores cá fora, mas também é gordo porque concentra muita informação no caderno principal, o que acho positivo, e que lamentavelmente se veio a perder no Expresso com a sua labiríntica rede de cadernos. O problema é que para além do fundamental se concentra o supérfluo, e o supérfluo caracteriza muito mais o Sol.
O Sol é um jornal cheio de muita coisa que não interessa mas é apetecível, e por isso é que, não sendo um bom jornal, tem tudo para abocanhar o mercado do Expresso, vetusto, institucional e decadente, embora nunca venha a ocupar o seu espaço.
Já vi o Sol, mas não vi a luz.
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