Edmund Stoiber, presidente do governo regional da Baviera e líder da CSU, partido siamês da CDU e, para todos os efeitos, partido no poder na grande coligação alemã, afirmou na sequência de algumas críticas feitas ao Papa por dirigentes turcos, que tais afirmações revelam "uma grande distância espiritual e cultural em relação aos valores europeus" e que "a Turquia não é Europa e não faz parte da Europa".
Stoiber parece insistir em esquecer-se de que o projecto europeu não é cristão e muito menos católico, não podendo, nem devendo a União Europeia deixar-se guiar por considerações de cariz teológico. O Vaticano não é Estado membro da União Europeia, nem poderia ser, desde logo, porque a UE exige o respeito pela democracia e pelo Estado de Direito, enquanto o pequeno enclave romano não passa de uma teocracia vitalícia medieva.
Sem dúvida que algumas críticas ao que o papa afirmou são exageradas e instrumentalizadas para fins religiosos, aludindo-se a cruzadas e associando-se o papa ao todo o mundo ocidental com finalidades políticas claras e inadmissíveis. Contudo, são diferentes as observações de quem leu toda a comunicação de Bento XVI e que apontam o seu carácter discriminatório e criticam a tentativa de demonstrar superioridade católica através do argumento de que a "minha religião é mais racional que a tua". O proselitismo vai sempre preferir o choque das civilizações à la Huntington à aliança de civilizações do tipo proposto por Zapatero.
Neste contexto, digam lá se não foi este um incidente muito útil...?
Sem comentários:
Enviar um comentário