sexta-feira, janeiro 06, 2006

Cavacadas

Na entrevista à SIC, Cavaco lá vai dando mostras do seu sentido de Estado. Quando perguntado sobre leituras disse que preferia «autobiografias», e que o último livro que leu foi um sobre o terramoto de 1755, mas não queria referir o autor porque entende que um candidato a Presidente da República não deve destacar um autor em relação a todos os outros.
O homem é de ferro. O homem não se descai. O homem não tem preferências que possam ser recriminadas. Perfeitamente impoluto.
Mas lá disse, até antes de referir este livro do terramoto, que a última autobiografia que leu foi a de Gabriel García Marquez. Este é estrangeiro, não vota - portanto, pode ser mencionado e destacado à vontade.
Também em relação ao aborto se recusou a exprimir qualquer opinião, porque um candidato a Presidente tem de respeitar o sentido pessoal de voto de qualquer cidadão. Nem para que os portugueses saibam o que pensam?, perguntou o jonalista. Nem para isso.
Acho isso muito bem. Para mim o Presidente deve ser aquele que sabe perceber e respeitar as diversas legitimidades com que se depara. Por isso é que Jerónimo e Louçã, candidaturas de protesto que fazem uma campanha de extensão dos respectivos programas partidários - o que permite supor que na Presidência fariam o mesmo - são hipóteses de voto que descarto à partida.
Mas para mim, saber o que o candidato pensa sobre os assuntos é importante. Independentemente de poder ou não agir consequentemente face às tais legitimidades com que se depara, como a legitimidade do governo em executar um programa com o qual foi eleito.
Para Cavaco, só importa não correr riscos e socorrer-se de banalidades generalistas, porque sabe o que pode acontecer se revelar o que pensa. Como já citei aqui, "Se nunca dissermos nada, nada que nos traga problemas, nada que possa ser uma gaffe, nada que possa indicar que pensamos o que não devemos, nada que indique que pensamos... então isso não é digno de nós, nem é digno de uma grande nação."

2 comentários:

Carim disse...

Cavaco limita-se a gerir a vantagem que pelos vistos dispõe... Cavaco é o candidato do "não comento", "nem uma coisa nem outra", "talvez sim, talvez não"... ninguém sabe o que realmente pensa ou o quais são as suas verdadeiras opiniões!

Esse exemplo da entrevista da Sic é de facto um bom exemplo... Cavaco é um calculista do pior que há... até o nome do autor do último livro que leu se recusa a dizer com medo de enfurecer outros escritores! Ou se calhar não se lembrava do nome do autor do tal livro...

João Gato disse...

É bem provável...