O início da era Merkel marca o fim da experiência de coligação vermelha-verde em Berlim, a aposentação de Gerhard Schröder e a retirada (provisória?) de Joschka Fischer da ribalta.
Perante a tentação de um balanço penalizador dos últimos 7 anos, motivado pela contestação na recta final, há que destacar diversos momentos chave da passagem do SPD e dos Verdes pelo Governo:
- Alteração da lei da nacionalidade, adequando-a à nova realidade demográfica e às expectativas legítimas dos descendentes de imigrantes
- Colocação das questões ambientais no centro da actividade governativa, constituindo a opção pelo abandondo do nuclear o exemplo paradigmático;
- Influência profunda no debate pela reforma das instituições europeias, destacando-se as diversas inciativas de Fischer em relação ao Tratado Constitucional e à Carta dos Direitos Fundamentais;
- Aposta no reforço do multilateralismo no plano internacional, mercendo referência a participação determinada no Afeganistão, a oposição à intervenção no Iraque e o incentivo à reforma da Carta da ONU (com particular enfâse na dinamização da possibilidade da Alemanha aceder ao estatuto de membro permanente do Conselho de Segurança);
- Preparação do terreno para a reforma do modelo de federalismo alemão;
- Finalmente, apesar da controvérsia e da impopularidade das soluções adoptadas no quadro da Agenda 2010, a coligação vermelha-verde deixa ainda a marca da determinação em reformar o Estado social, de forma a assegurar a sua viabilidade.
A última cartada de Schröder, a fuga para a frente que poucos vislumbravam como frutuosa, quase determinou uma vitória tangencial. O "quase", porém, foi apenas suficiente para garantir metade das pastas ministeriais na Grande Coligação (entre as quais a maioria das decisivas, como as Finanças, Justiça, Trabalho e Assuntos Sociais, Negócios Estrangeiros, Saúde e Obras Públicas), não tendo sido bastante para segurar a chancelaria, nem sequer no modelo de semestres partilhados "à israelita".
Na hora da despedida (e sem abusar, sob pena de este post assumir tonalidade de fado), Schröder não deixa certamente o legado que desejaria, mas deve merecer o reconhecimento pelo importante caminho que começou a trilhar e pela marca francamente social-democrata que deixou em aspectos decisivos da vida política alemã.
Já agora, Schröder foi até hoje o único chanceler que prestou juramento sem invocar a fórmula religiosa que a Lei Fundamental admite a título facultativo. Digam lá que não vão ter saudades!
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