quarta-feira, novembro 23, 2005

Fraternidade


Não me dói nada meu particular.
Peno cilícios da comunidade.
Água de um rio doce, entrei no mar
E salguei-me no sal da imensidade.

Dei o sossego às ondas
Da multidão.
E agora tenho chagas
No coração
E uma angústia secreta.

Mas não podia, lírico poeta,
Ficar, de avena, a exercitar o ouvido,
Longe do mundo e longe do ruído.


Miguel Torga
Cântico do Homem, 1950

Sem comentários: