São três da manhã de um dia destes e faço zapping na tv em casa de um amigo, conversando sobre qualquer coisa, depois de assistirmos a um documentário qualquer sobre qualquer coisa que se bem me recordo se assemelhava aos esgotos de Nova Iorque. No belo canal RTP Memória, depois de 79 voltas consecutivas aos 18 canais que tem aquela bela televisão, ficamos pasmados a olhar para João Paulo II que fala. "Olha o Papa" - exclama ele. "Ex-Papa" - digo eu. E ficamos a olhar como que maravilhados. Num português abrasileirado o Papa diz qualquer coisa como "aborto", "pecado", "assassinos". Olhamos um para o outro e dizemos sem pensar "Ei", enquanto eu mudo de canal.
E assim se vão passando os dias. Ainda me lembro, era eu jovem, de chorar quando a nova lei do aborto não foi aprovada na AR. Na altura, parece-me a mim, tinha alguma consciência social ou coisa que o valesse. Hoje em dia, o Presidente recusa-se a convocar um referendo porque alega a ida de férias dos portugueses como factor dissuasor do sucesso deste. Reacção: com que dinheiro é que os portugueses vão de férias? Por que motivo ainda não se veio dizer que os referendos em Portugal dão tanta legitimidade a uma alteração legislativa como tomate pelado numa salada de tomate com pimentos? Ainda ninguém entendeu que nenhum português se levanta da poltrona para votar em assuntos sociais, ou mesmo, NADA?
O nosso Primeiro Ministro, homem astuto e silencioso, inflexível e autoritário, não percebeu que esta questão do aborto foi chão que deu uvas? Pois digo-lhe eu: pãozinho para a boca e a malta vota toda.
E assim passo eu os dias, a ver o Benfica jogar.
Se o país continua assim, qualquer dia começo a ver a Cabocla em repetição no GNT.
sexta-feira, maio 06, 2005
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3 comentários:
Permito-me ser o teu primeiro comentador.
Benvinda, miúda.
É esse o espírito que se quer!
Benvinda cidadã fada.
Não podia perder a oportunidade de te saudar com um enorme BEM HAJA que, apesar de ter o mesmo tamanho de letra, se destaca pelo uso abusivo e gratuito de maiúsculas
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