Normal é este grupo de sujeitos se arvorar em detentor do monopólio da verdade no que diz respeito ao amor e ao sexo.
Normal é este mesmo grupo considerar que os principais intérpretes da tal verdade são a mesma casta de rapazes e raparigas que juraram abdicar da sexualidade para servir uma superstição religiosa.
Normal é o dito grupo insistir em apresentar a reprodução da espécie como argumento válido para ajuizar da "normalidade" de comportamentos sexuais entre indivíduos adultos, esquecendo-se que o amor, o afecto e o prazer distingue o ser humano do resto da Criação.
Gostem ou não gostem, caros apóstolos da normalidade, a homossexualidade está connosco desde a noite dos tempos, tal como a heterossexualidade. Alexandre o Grande, Ricardo Coração de Leão, Oscar Wilde, Leonardo Da Vinci: geniais, visionários, corajosos, ambiciosos? Talvez. Mas, de acordo com este cidadão, estas figuras históricas eram, para todos os efeitos, anormais.
Mas o que dizer a pessoas que acham que velhas lendas wagnerianas, metáforas futebolísticas, gastronómicas e bíblicas e filmes da Disney servem como barómetros da normalidade, como fontes de inspiração para destilar o padrão-ouro do comportamento humano das centenas de milhares de anos de complexidade humana?
É uma velha máxima do conservadorismo: keep it simple. Um valor fundamental que não dê para articular em 10 linhas e que não seja inteligível para uma criança de 10 anos não vale a pena defender. Nós rapazes gostamos de meninas, portanto somos os bons. Os rapazes que gostam de rapazes são maus (mas temos direito a ter pena deles, coitaditos).
E os rapazes que gostam de rapazes E de meninas? E os rapazes que gostam de meninas até aos 40 anos de idade, mas depois descobrem que afinal preferem rapazes?
Keep it simple.
E depois os Conservadores é que dizem que são realistas, que vêem o mundo como ele é e não como ele devia ser.
Os Conservadores portugueses só sonham com um país que já não existe e com outro que nunca vai existir, sentem-se eternamente desiludidos com o desfazamento entre a Verdade deles e a complexidade da realidade nacional, tristes por haver gay parades, zangados com o aborto, revoltados com a banalidade do bem-estar que a República de Abril nos trouxe malgré eux.
Tenho más notícias para vocês: os vossos filhos e as vossas filhas serão a geração mais tolerante, internacionalizada e cosmopolita da história do país e, em breve, as vossas causas e a vossa amargura serão tão risíveis como é hoje a aspiração de outra geração de manter o país fechado, miserável, isolado e dominado pela mediocridade chauvinista da ditadura autoritária.
O futuro será anormal, previno-vos!
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