domingo, janeiro 18, 2009

A Intemporalidade

Assisti hoje a um bom concerto na Gulbenkian de um excelente pianista, Murray Perahia, que fez desfilar obras de Bach, Mozart, Beethoven e Brahms perante uma plateia deleitada que lhe exigiu dois belíssimos encore executados na perfeição.
Um pensamento recorrente pôs-me a tentar encontrar paralelos candidatos a intemporais nos artistas meus contemporâneos... Nada me surge que se vislumbre com a mesma longevidade.
Então lembrei-me pensar se esta aparente tendência para o esquecimento se aplicaria também aos acontecimentos que nos rodeiam. Desde os anos oitenta até hoje não encontrei nada que não ameace desaparecer na curva do tempo, ou que não se perca neste enorme turbilhão de novidades que é a produção artística e noticiosa destes anos.
Fazendo um balanço dos últimos 30 anos em que vivi não encontro nada que me pareça que permaneça. Nenhum 14 de Julho ou 5 de Outubro ou 25 de Abril. Duvido que resulte algum novo dia feriado para festejar algo que tenha acontecido neste período ou que tenha surgido algum artista que vá ser tocado nos próximos 300 anos para plateias deleitadas.
Nem sei valorizar tudo isto. Não sei se é bom ou mau, se há génio ou não, se é necessário ou não seres e criações intemporais. Parece-me apenas que não é propício o aparecimento dessas criações ou pessoas numa época em que os ideais possíveis são a sustentabilidade financeira e ambiental e um sentimento difuso de necessidade de aprofundamento dos valores da Liberdade, Igualdade e Fraternidade mas sem vislumbre de qualquer força para uma real alteração de paradigma, por ventura desnecessária.
Apenas alguns pensamentos moles, vagos e despretensiosos dignos de um fim de dia destes Domingos.

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