sexta-feira, setembro 12, 2008

O melhor jornalismo do mundo III

Mais uma vez, o NYT a dar cartas. Impressionante este artigo sobre Jenin. Impressionante também a capacidade das pessoas em Israel/Palestina acreditarem na paz, nem que seja à escala local, apesar de Ocupação, terrorismo e ódios viscerais.

A passagem mais interessante parece ser esta, de um líder de uma estrutura do poder local israelita:

“There are two kinds of peace,” Mr. Atar said one recent afternoon in his office with Mr. Salem at his side. “There is the one on a piece of paper that doesn’t stand up to any test and there is the one built from the bottom up. That is the one we are hoping to build. It is increasingly clear that if Israeli Jews cannot figure out how to have good relations with Israeli Arabs, there won’t be peace beyond the borders, either. We have a choice in Israel of making peace or living in a bunker.”

O que é mais triste é que os pontos de contacto entre israelitas e palestinianos, isto é, os alicerces dessa paz 'bottom up' começaram a escassear depois da Primeira Intifada, para desaparecerem quase completamente depois da Segunda. Ironicamente, entre 1967 e o fim dos anos 80, a Palestina ocupada assistiu a um boom económico, oleado pelo consumo israelita e pelos salários ganhos em Israel. A Palestina tinha uma classe média próspera, um nível de educação formal invejável na região, mulheres emancipadas, um debate político e uma imprensa pujantes etc. Também ironicamente, a Ocupação e a tutela israelita impediram que se instalasse no poder uma daquelas ditaduras autoritárias que dominam na região e que eternizam a mediocridade no Mundo Árabe.

Mas o que a Primeira Intifada demonstrou é que não há prosperidade que compense a falta de liberdade, e a incapacidade de decidir o próprio destino. Era uma prosperidade constantemente relativizada pelos rituais administrativos e repressivos da Ocupação. E o rebentar da Primeira Intifada é uma lição muito útil: ter um estômago cheio, ter um salário e saber ler e escrever não chega. É preciso ser livre.

O que é triste é que olhando à volta na região, para sítios onde soldados israelitas nunca puseram os pés, a liberdade não é propriamente um dado adquirido. Quando Arafat voltou à Palestina no contexto do processo de Oslo, instaurou uma ditadurazinha paternalista e corrupta, e mostrou que o relaxamento da Ocupação não restaurava automática e miraculosamente um utópico passado de liberdade e felicidade na Palestina.

Mas isso na verdade não diz respeito a Israel. Cabe aos palestinianos escolherem o seu próprio destino, mesmo se isso incluir enfiar o mesmo barrete que os vizinhos egípcios ou jordanos. E talvez um dia, quando os israelitas retirarem os colonatos e houver fronteiras claras entre estes dois povos que têm que ser separados de uma vez por todas, talvez um dia, quando as feridas tiverem começado a sarar, os israelitas possam a voltar a ir fazer as compras de fim-de-semana à Palestina (parece que o houmous de Tulkarm é particularmente delicioso) e os palestinianos possam vir ganhar a vida em Israel.

Anseio por ler um artigo do NYT sobre este novo mundo.

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