segunda-feira, setembro 29, 2008

Eleições em alemão (do Sul) - II


Um pouco mais a sul, o resultado eleitoral foi um pouco mais deprimente. Para quem pensava que a extrema-direita austríaca tinha chegado ao seu pico em 1999, com os 26% de Haider, os resultados das eleições de ontem são um significativo balde de água fria.

Os social-democratas do SPÖ, com liderança refrescada com Werner Faymann e com um ensaio eurocéptico soft, conseguiram manter o primeiro lugar conquistado surpreendentente há um ano e meio. Contudo, com 29%, registam o pior resultado da sua história. Os conservadores do ÖVP, com 25,6%, conseguem também o seu pior resultado de sempre, ganham distância para os social-democratas e preparam-se para uma provável nova liderança.

Perante este cenário de castigo à grande coligação, as vencedoras da noite são as formações de extrema-direita: em primeiro lugar, o FPÖ, o "clássico" partido de extrema-direita, que sobe 7 pontos e chega aos 18%; logo de seguida, a BZÖ, a cisão organizada pelo antigo patrão da FPÖ, Jörg Haider, que chegou aos 11%, subindo também 7 pontos percentuais e roubando o quarto lugar aos Verdes, que se ficaram pelos 9%. Dividida, marcada por questiúnculas pessoais herdadas do tempo da cisão no rescaldo dos governos de coligação com a ÖVP de Schüssel, e caracterizada pelo discurso xenófobo e eurocéptico do costume, a extrema-direita austríaca chega aos 29% e ultrapassa a sua melhor marca, a de 1999, em que ainda unificada com FPÖ chegou aos 26%.

Mas há mais. Em Viena, a maior circunscrição eleitoral e maior centro urbano, a FPÖ foi a segunda força mais votada. E entre os jovens, a votação na extrema-direita foi percentualmente mais elevada do que no cômputo geral. Dois resultados que não auguram nada de bom. (Mais resultados, por região, aqui)

E o que se segue? O SPÖ anunciou que vai começar a preparar Governo. Ou se coliga outra vez com os conservadores, reeditando a coligação que foi sancionada nas urnas, esperando uma nova liderança do ÖVP menos revanchista, capaz de engolir a derrota de 2006, ou apenas lhe resta tentar um governo minoritário: com FPÖ já disse que não quer conversa (apesar de formar maioria aritmética), com os Verdes não há votos suficientes. Uma alternativa "à la 1999" seria a formação de um tripartido de direita, com conservadores e os dois partidos extremistas. O líder da FPÖ, Heinz-Christian Strache, não só acha a ideia interessante como até acha que tem potencial para ser o seu líder, invocando precisamente o precedente de 1999 em que foi Schüssel, o líder do terceiro partido mais votado, a chegar a chanceler...

Tudo somado e dividido, o mais provável será mais uma grande coligação. Contudo, se alguma coisa fica claro depois deste domingo é o efeito potencialmente nefasto destas soluções de centrão para as democracias. Lições a aprender a norte, na Alemanha, e por outros locais, à beira-mar plantados...

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