quarta-feira, março 05, 2008

18 aninhos

Não compro o Público todos os dias, mas quase todos. Não foi com o Público que ganhei o hábito de ler o jornal todos os dias, mas com o Diário de Notícias, que estava à disposição dos clientes do café que frequentava com os meus pais, como era hábito fazer depois de jantar, ainda rapazinho e antes de começar a fumar e a descobrir outros vícios igualmente transgressores que se fazem no café.
Mas o Público foi o jornal que escolhi como o meu jornal, da mesma forma que escolhemos as companhias e as amizades quando crescemos e passamos de meros espectadores a invervenientes na comédia da vida. Mas mais que as amizades, o Público tornou-se como que um familiar cuja falta se sente quando não está.
O Público é uma referência por causa de uma ideia muito própria de conceber um jornal, quer como veículo de informação, quer como objecto do quotidiano - os coleccionáveis, por exemplo, são realmente bons e não são lançados apenas para vender mais jornais.
O Director é capaz dos maiores dislates, mas os colunistas também são capazes de o pôr no lugar, e de fazerem o mesmo uns aos outros. Num país com uma muito pudica tradição de jornalismo sem linha editorial comprometida ideologicamente (como se isso por si só fosse garantia da independência e neutralidade devidas) mas em que muitas vezes se percebe o dedinho manipulador do autor da notícia, este é um pecado bem-vindo.
A crítica de artes e espectáculos, especialmente no Y e sobretudo nos títulos, anda perdida em textos narcicistas e de graçola fácil, muitas vezes superficiais, afirmando-se o estilo em prejuízo do sentido objectvo dos assuntos. Mas ainda assim vai sendo o melhor e mais completo suplemento deste tipo.
Por tudo isso, não queria deixar passar a oportunidade de assinalar os 18 anos do Público. Desejo apenas que a maioridade não lhes traga o juízo devido, porque de outra maneira não tem graça.

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