quinta-feira, fevereiro 21, 2008

O virar da página

O Comandante-em-chefe de Cuba renunciou ao cargo de Chefe de Estado, mas não significa necessariamente que tenha renunciado ao poder. Figura polarizadora como é, não tardaram as reacções entusiasmadas de adeptos e detractores.
Fidel liderou um golpe de estado para derrubar um governo despótico e corrupto no quintal dos Estados Unidos, que muito convinha aos interesses americanos. O mais que se pode dizer do movimento revolucionário é que era de natureza patriótica, nem sequer de esquerda ou de direita. No entanto, as necessidades resultantes do realinhamento geo-político e estratégico assim operado empurraram-no para a esfera de influência da União Soviética, como forma de assegurar a sobrevivência do projecto revolucionário, mas também, não haja ingenuidade quanto a isso, a sua sobrevivência enquanto líder político.
Daí que, antes de ser herói ou vilão, Fidel Castro seja um caso exemplar de sobrevivência e adaptação às contingências da política. A sua figura suscita-me, por isso, apenas uma apreciação cínica: não acredito que seja o ditador facínora nem o líder democraticamente amado pelo povo que alguma esquerda diz. Parece-me que quando uma lista que recolhe 95% de votos não estamos perante uma eleição, mas sim de uma aclamação, com tudo o que isso acarreta de fragilidade democrática. Parece-me, também, que, para o tipo de ditadores a que estamos habituados, falta a Fidel uma quantidade séria de palácios sumptuosos e demonstrações de luxo, e o seu currículo regista alguns serviços desinteressados prestados ao seu povo.
O embargo económico a cuba tem sido a perfeita desculpa para Fidel. Enquanto os Estados Unidos não ultrapassarem o ódio a Fidel que se transmite de geração em geração de políticos, e, quem sabe, enquanto o estado da Florida tiver o peso que tem nas eleições e os dissidentes cubanos se constituírem como grupo eleitoral de especial influência, Fidel conseguirá sempre pôr o povo do seu lado contra a América. Até que isso mude, a História não o poderá julgar convenientemente.

1 comentário:

Quintanilha disse...

Entrou sangue novo!