Não partilho do zelo.
Não estou convencido da mensagem catastrofista (por exemplo, andamos há anos a manipular remédios geneticamente - anti-retrovirais, contra a leucemia, contra o cancro...; tornar a produção agrícola mais resistente a certas doenças pode melhorar decisivamente a alimentação de populações sub-nutridas etc.)
Não me agradou a iniciativa de destruição do campo de milho.
Estou indeciso neste debate. Há estudos para todos os gostos a provar aquilo que quisermos. O argumento anti-OGM mais convincente é o de que em caso de incerteza, e à falta de dados conclusivos, mais vale ser cuidadoso, já que a opção pró-OGM é irreversível. Mas nós também não temos a certeza em relação aos efeitos dos telemóveis, de todo o tipo de radiações emitidas por aparelhos electrónicos etc. Eu admito que, em caso de dúvida, sou céptico em relação aos argumentos "let's keep it natural", "a natureza tem tudo o que precisamos", "não vamos manipular a natureza" etc.
Não sei se isto é a velha escola marxista a falar, mas se deixássemos a natureza tomar o seu rumo vivíamos nas árvores, comíamos carne crua, demorávamos 72h a fazer o caminho a pé Lisboa-Praia das Maçãs e em termos de sexualidade e reprodução era 'cada tiro, cada melro'.
E como sou um leigo, perguntei a um familiar meu que é biólogo/académico (não, não trabalha para a Monsanto) que me diz que a manipulação do genoma do milho, por exemplo, é inofensiva. Não sei...
Mas esta intervenção, gostei sim senhor: articulados, corajosos, inteligentes. Longe de serem vândalos desvairados...
sexta-feira, agosto 31, 2007
terça-feira, agosto 28, 2007
Sarkozy
Nada como voltar à actividade bloguística pós-estival do que um post sobre Sarkozy. O homem ainda usufrui do estatuto de notícia fresca, cada palavra por ele proferida é absorvida e reproduzida tal qual pronunciamento de um sábio oráculo. Por exemplo este recente discurso teve mais cobertura mediática do que a invenção da roda. E foi importante: marcha à ré em relação à atávica intransigência anti-turca; críticas aos EUA; apoio a Israel; o Irão como ameaça global e referência à 'opção militar' para lidar com o programa nuclear de Teerão - enfim, é só material para vender papel.
Mas fica aqui lembrado um discurso do senhor ainda em Julho que deve ter passado despercebido a toda a gente por causa das férias. É feio. É porco. E é mau. Neo-colonialismo? Não, este é mesmo o original, o da Conferência de Berlim. The real thing.
segunda-feira, agosto 27, 2007
A brincar, a brincar
terça-feira, agosto 14, 2007
terça-feira, agosto 07, 2007
Deputados desgovernados
As histórias vêm na Time desta semana, ilustrando a degradação da classe política do país, deputados e senadores especialmente, num artigo sobre o assunto.
A baixa da capital estava bloqueada por uma visita do presidente americano e Gustavo Selva, veterano membro do Senado, estava atrasado para chegar a uma entrevista na televisão. Confrontado com tão ignóbil contratempo para alguém do seu estatuto, o senador chamou uma ambulância e deu indicações para o levarem à morada do seu "cardiologista", que era, claro, a morada do estúdio de televisão, onde a sua augusta pessoa prontamente relatou o episódio, no ar e em directo, elogiando a sua própria capacidade de desenrascanço.
E há esta outra. Quando um deputado se demitiu na sequência de um escandaloso envolvimento com um prostituta, o líder dos democratas-cristãos propôs um "subsídio de reunião familiar" para que os deputados possam passar mais tempo com as suas famílias porque, como explicou, «a solidão é um assunto sério». Mais uma contribuição para juntar aos cerca de 145 mil euros anuais que um parlamentar ganha em média por ano.
Enquanto apenas 15% da população manifestam confiança na classe política, a manutenção do Palácio do Presidente custa quatro vezes mais do que a do Palácio de Buckingham (já sei o que dirão os regulares visitantes monárquicos, mas a isso já o Pedro Alves respondeu eloquentemente), e os políticos vão-se gozando da maior frota europeia de viaturas com motorista. E continuam a apresentar protestos formais pela falta de qualidade dos gelados no bar do parlamento.
Não é África, é a Itália.
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