Decorridos 176 dias sem que um governo tenha saído das últimas eleições, e perante a desistência de Leterme em prosseguir como formador de coligação, o rei dos Belgas optou por uma estratégia radicalmente diferente, encarregando o primeiro-ministro em exercício, Guy Verhofstadt, de explorar estratégias para sair da crise, procurar lançar pontes para a reforma do Estado e estabelecer soluções para questões prioritárias, que ultrapassem a gestão corrente (entre as quais avulta o orçamento de 2008).
Apesar do seu famigerado voluntarismo e da sua capacidade de alcançar com habilidade comprmissos inatingíveis, o recurso a Verhofstadt acaba por ser problemático na medida em que, para todos os efeitos, perdeu as eleições de Junho. É certo que é o seu capital de estadista que surge como nova hipótese para sair da crise. Mas como sustentá-la politica e parlamentarmente - um governo de união nacional como propõem os socialistas, uma manutenção da coligação ainda no poder com uma base parlamentar alargada ou baralhar e dar de novo?
3 comentários:
A Bélgica está de pernas para o ar. Onde é que já se viu ser o Primeiro Ministro que perdeu as eleições a desbloquear a crise? Esta crise em que a Bélgica se encontra deve-se exclusivamente à teimosia dos francófonos que apenas pensam neles e nos seus interesses.
É que se calhar mais vale e isto é a solução aceitável...
Caro Miguel Lomelino,
N�o deve ter lido com aten�o a imprensa belga (quer franc�fona, quer flamenga) dos �ltimos meses.
Tamb�m n�o deve ter tido pachorra para ultrapassar os clich�s habituais que, infelizmente para si, resultam em opini�es pouco construtivas e longe de serem inteligentes. Esta sua frase prova-o:
"Esta crise em que a B�lgica se encontra deve-se exclusivamente � teimosia dos franc�fonos que apenas pensam neles e nos seus interesses".
Esta frase, Miguel, � digna dos discursos que a extrema-direita flamenga tem proferido publicamente nos �ltimos meses. Acho idiota, mas percebo que seja mais f�cil reduzir a crise belga a uma simples birra de uma ou outra comunidade.
Por�m - no caso belga como em muitos outros - a realidade � bem mais complexa do que parece: vale a pena evitar clich�s e subjectividades extremas e simplistas. E vale tamb�m a pena deixar sempre em aberto conclus�es tiradas � pressa, para o caso de estarmos enganados ou de querermos alterar, mesmo que minimamente, a nossa opini�o.
A B�lgica � - sempre foi - o resultado de concerta�es pol�ticas. Estas interac�es entre grupos pol�ticos democr�ticos s�o preciosas e louv�veis. S�o tamb�m edificantes e bonitas. Resultam de uma constru�o democr�tica baseada no respeito pelos outros. �s vezes parecem ( e chegam a ser) quixotescas e excessivas. Mas tornam-se especialmente perigosas e ineficazes quando partidos de extrema-direita e/ou nacionalistas intrumentalizam situa�es pol�ticas, sociais, econ�micas, etc ( e minorias...) para fins duvidosos, pouco honestos e, sobretudo, totalmente aqu�m da vontade da popula�o belga na sua grande maioria, independentemente de perten�as culturais, pol�ticas, lingu�sticas e sociais.
Para sua informa�o, 93% dos "Belgas flamengos" e 98% dos "Belgas franc�fonos" acham que a B�lgica deve ser mantida (sondagem do Le Soir e do Standaart). Como pode constatar, a separa�o n�o � de todo, ambicionada pela popula�o, nem sequer pelos eleitores do Vlaams Belang.
Contrariamente ao que diz, a crise n�o � devida � "teimosia dos franc�fonos que apenas pensam neles e nos seus interesses".
Miguel: n�o s� falha na utiliza�o da denomina�o "franc�fonos" (fant�stica generaliza�o!), como omite propositadamente o facto de que a teimosia provem igualmente dos pol�ticos flamengos (democr�ticos inclu�dos) que chegam a votar de maneira agressiva, com partidos de extrema-direita (escamoteando sem vergonha o cord�o sanit�rio), pela desconsidera�o de uma minoria existente.
Soyons raisonnables!
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