Há uma velha máxima da política americana que diz que um republicano do Massachusets tem de ser mais liberal do que um democrata do Tennesse, e vice versa - quem diz do Massachusets diz de Nova Iorque ou da Califórnia, quem diz do Tennesse diz de qualquer outro estado do Sul, tradicionalmente conservador. Era mais ou menos isto que se passava com Mitt Romney e Rudy Giuliani.
A personagem Mitt Romney é especialmente intrigante. Um republicano ser eleito Governador do Massachusetts é coisa digna de nota (embora Nova Iorque e a Califórnia também tenham Governadores de sinal contrário ao sentido geral do voto no estado). Ser republicano e defensor do aborto - vá lá, não opositor, mas achando mal - cria ainda mais confusão, mas ajuda a explicar a antecedente. Mas se acrescentarmos que o homem é Mórmon, das duas uma: ou trata-se de uma personagem verdadeiramente folclórica, para não dizer habilidoso político que se posiciona nos temas da forma que lhe possa render mais votos; ou então há mesmo hipótese de existir um tal coisa a que se chamará "conservadorismo progressista", por oposição a um conservadorismo reacionário.
Rudy Giuliani podia confirmar a segunda hipótese: orgulha-se de um currículo brilhante no combate ao crime (orgulho para qualquer republicano), mas tem muitas posições progressistas: - é pro-choice e a favor do alargamento dos direitos dos casais homossexuais. Mas não. Vários sinais indicam o contrário. Ontem Rudy recebeu o apoio formal de Pat Robertson, um famoso "televangelista" conhecido por ser tudo menos, digamos assim, um tipo tolerante, para além de um dos maiores caciques religiosos do Partido Republicano. Por seu lado, a revista Time pergunta-se, na edição desta semana, porque é que Mitt Romney não faz da reforma do sistema de saúde no Massachusets uma bandeira eleitoral (porque falar em sistema de saúde público é pecado para um conservador, digo eu). E ontem, no Daily Show na SIC Radical, passou um clip sobre a forma como todos os candidatos republicanos aplicavam a si próprios, insistentemente, o adjectivo "conservador". À medida que a luta aquece, os candidatos vão disputando os pergaminhos do Grand Old Party.
Porque será isto assim? Por um lado, a velha máxima vale só ao nível estadual. Se Bill Clinton, do Arkansas, e Al Gore, do Tennessee, fossem democratas tipicamente sulistas não teriam ganho as eleições apoiados nessa base eleitoral.
Por outro lado, há o factor Hillary. Perguntado sobre os candidatos democratas, o conselheiro do Presidente Bush Dan Bartlett (ironia para qualquer fã de The West Wing...) disse que Barack Obama seria o candidato mais difícil de enfrentar para um candidato republicano na eleição nacional, porque os anti-corpos que Hillary Clinton suscita no eleitorado republicano provocaria uma mobilização extra do partido.
Em conclusão: se os republicanos em 2008 não estiverem alinhados com a base eleitoral do partido a nivel nacional, convencendo-os de que são um verdadeiro contraponto a Hillary Clinton, nem das primárias passam.
E das duas uma: a primeira.
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