Parecia que Hillary Clinton tinha tudo para agarrar a nomeação democrata (menos a conveniência do género masculino): nome, reputação no partido, currículo no senado, antecedentes de mulher enganada que sacrificou o orgulho pela família, e dinheiro, sobretudo dinheiro, angariado por uma base de apoio nacional fiel ao clã Clinton e ao seu legado e influência políticos. E depois apareceu Barack Obama.
Na Convenção Democrata de 2004, Obama estava apenas prestes a ser eleito para um primeiro mandato como senador do Illinois, e no entanto parecia ele o candidato presidencial. Ouve-se Obama falar e fica uma sensação de frescura e autenticidade raras. Com uma retórica rica em substância, ele arrasta multidões em comícios e foi o candidato que angariou mais fundos no último trimestre, batendo o record absoluto de angariações de um candidato democrata.
O mais elucidativo da sua capacidade de mobilização não é o montante, mas sim a proveniência: os fundos resultam de 351.393 donativos de 257.902 doadores, sendo que nem um cêntimo foi angariado através de lóbis de Washington ou de comités de acção política - essa foi uma condição fundamental imposta pelo candidato. Em vez de donativos avultados, de doadores abastados, Obama chegou ao average Joe, e fez da doação mais singela um gesto simbólico de participação política.
Enquanto Hillary se limitava a uma pré-campanha morna, gerindo o seu capital político sem compromissos ou comprometimentos, sem grandes declarações, passeando-se calmamente como uma soberana nos seus domínios, Barack Obama fazia a campanha de quem quer não só ser eleito mas justificar o voto, de quem quer não só chegar a presidente, mas também chegar a algum lado enquanto presidente. Apesar do peso do família Clinton, apesar de Hillary ainda estar à frente nas sondagens, apesar de contar com mais uns dez milhões de euros que guardou das angariações para a sua campanha de 2006 para o senado (onde não enfrentou grande oposição), Barack Hussein Obama, cujo nome evoca duas personagens de má memória para os americanos, parece ser muito mais do que um caso sério de popularidade.
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