Que a compreensão do funcionamento da democracia e do Estado de Direito entre os responsáveis políticos do PSD-Madeira nem sempre é clara já o sabíamos. Que o descaramento na recusa em cumprir as leis da República é cada vez maior é que é motivo de preocupação. O secretário regional da Saúde do governo regional da Madeira, Francisco Jardim Ramos, usando o habitual bravado populista do querido líder carismático, veio afirmar que a República não pode impor "colonialmente" uma lei à Madeira quando os eleitores a rejeitaram por 64% dos seus votos. Sucede que a República o não impõe colonial, mas sim democraticamente. Sucede também que a Madeira é parte integrante do território nacional e que a legislação penal é da competência da Assembleia da República, que apenas pode autorizar o Governo da República a também legislar sobre a matéria. Assim como o distrito de Vila Real, onde o não também foi vencedor, não se pode recusar a aplicar a lei, também a Madeira o não pode fazer. Jurídica, política e democraticamente a questão é cristalina.
Aparentemente, o governo regional sustenta-se num parecer de Jorge Bacelar Gouveia em que este jurista afirma que, estando o sistema de saúde regionalizado, a Madeira poderia legislar em termos de protecção e saúde e não aplicar a lei que permite a IVG. Tese interessante esta, que ignora o direito fundamental de acesso a prestações de saúde, mais uma vez matéria da competência reservada da AR, e que levada a todas as suas consequências poderia permitir às regiões não oferecer serviços de oncologia, recusar fornecer informação sobre planeamento familiar ou não querer realizar apendicites.
3 comentários:
Bom, o parecer de Jorge Miranda difere da opinião de Jorge Bacelar Gouveia, o que é tão mais relevante quanto o Jorge Miranda defendia a não alteração da lei. De qualquer modo, parece-me importante haver um esclarecimento do assunto por parte das entidades nacionais competentes.
E, independentemente de tudo o resto, onde estão os 64% de votos que rejeitaram a alteração da lei? É que das duas uma, ou estamos a falar da percentagem de votantes Não na Madeira (nem me dou ao trabalho de ir confirmar, desculpem, não tenho pachorra) e, que eu saiba, não houve um Referendo Regional*, ou o senhor secretário regional da Saúde do governo regional da Madeira também é dos tais que contabiliza embriões como votantes Não.
*(Ou será que o Alberto João "mandou" referendar a coisa, assim porque sim, sei lá, num dia em que o "contenente" estava a banhos, a gozar dos rendimentos e a fazer "nhurra" como é seu hábito, enquanto o presidente do governo regional trabalhava arduamente, de modo a equilibrar as contas da Pérola do Atlântico que o governo central "teima em prejudicar" ?)
Ana Matos Pires
Pedro, sorry pela "melguice", mas ainda me ficou aqui uma "entalada", e recuso-me a não fazer profilaxia da úlcera duodenal, do enfarte do miocárdio ou de outra possível manifestação somática que "os nervos" comprovadamente facilitam.
Não me espanta o alarido que os grupos "nãoistas" continuam a fazer depois do Referendo de Fevereiro, era de esperar que o ruído de fundo se mantivesse. Com isso posso eu bem (confesso até que desperta a minha parte mais ruim, mais perversamente infantil, e que dou comigo a ter pensamentos irritantezinhos do tipo "nha, nha, nha, o que é facto é que perderam!") mas, neste caso, estamos a falar de outra coisa. O que está em causa, em última análise, é retirar direitos às mulheres madeirenses que, por opção, decidam interromper uma gravidez, porque… são madeirenses. E ainda que eu mal pergunte, o que se passa com as outras situações previstas na Lei do Aborto? Qual a posição do Governo Regional? E quem vai decidir sobre a instalação de um serviço privado que ofereça este acto médico na Madeira? Também não se vai aplicar a lei nacional? Se isto não se chama demagogia e abuso de poder, querem fazer o favor de me explicar o que é, então?
Ana Matos Pires
Ps: Já estou a imaginar uma “boca” do tipo “ah, ah!... estão a ver a defesa da privatização do aborto? Nós bem tínhamos avisado que os “doutores morte” o iriam fazer, era só deixar passar o período eleitoral!”. Que “engraçado” seria a tal “boca” surgir pela língua de algum “pró-vida” que exerce actividade clínica e/ou de gestão num qualquer hospital privado…
Acho dignificante hospitais terem começado a praticar abortos antes de a lei entrar em vigor. Se a moda pega....
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