Apesar do resultado final não ser surpreendente (maioria absoluta para a UMP), os números da vitória do partido de Sarkozy é que ficaram aquém das previsões. Usando o esquema dos tópicos, cá vai:
- Em primeiro lugar, esta será a Assembleia Nacional francesa com maior número de deputadas de sempre, cerca de 20% (a actual composição era de 13%). É certo que o sistema eleitoral francês não se articula com um regime de quotas, uma vez que é maioritário, mas ainda assim o resultado é fraquito. Apesar de este ano, pela primeira vez, uma mulher ter disputado a segunda volta de umas presidenciais, ainda há muito trabalho pela frente.
- O PSF consegue um resultado francamente melhor do que o esperado. Não só trava aquilo que parecia uma inevitável vaga de fundo da UMP, como ainda consegue melhorar o número de deputados que tinha na legislatura anterior (tinha 141 deputados na assembleia actual, deverá passar a ter 205). O resultado deve-se, aparentemente, a dois factores. Por um lado, à maior mobilização da esquerda do que da direita, que assumiu a folga da semana passada como um sinal de confiança na vitória. Por outro lado, a transferência de alguns votos do MoDem de Bayrou. Apesar de, na sequência do apelo de Ségolène, este se ter escusado a apoiar candidatos socialistas, acabou por haver transferência de votos. A este cenário acresce a notícia de que Ségolène e Hollande estão separados e que a candidata derrotada pretende disputar a lidernaça do PSF ao ex-companheiro. Apesar de ter de enfrentar os barões do partido, o resultado de hoje reforça os pergaminhos de Ségolène: foi ela que insistiu na aliança com o centro, foi ela que não baixou os braços e lutou pela mobilização para a segunda volta. Da minha parte, que nunca endeusei o seu novo estilo e que estive por vezes céptico do seu sucesso presidencial, revelou nestas legislativa a dignidade de quem foi derrotado e ainda assim se empenhou na luta seguinte.
- O PCF tem um balão de oxigénio com a eleição provável de 18 deputados, o que apesar de não lhe dar direito a grupo parlamentar permite uma sobrevivência digna e a manutenção de relevância parlamentar. É quarta formação, a seguir aos aliados centristas de Sarkozy. Talvez se safe de vender a sede e o recheio, conforme se comentava há uns dias...
- François Bayrou vê confirmar-se a quase insignificância parlamentar do seu novo partido, apesar da percentagem de votos (retomarei este problema num outro post). Acompanhado de mais 3 deputados, Bayrou terá uma díficil travessia do deserto, com pouco peso político, isolado da sua família tradicional, cujo grosso está com Sarko (22 deputados para o Novo Centro) e longe do PSF à sua esquerda (a não ser que uma vitória de Ségolène possa alterar os dados do problema e permitir um namoro ao centro). Contudo, é de registar o flirt da UMP, que desisitiu da sua candidatura na circunscrição de Bayrou e levou à sua eleição folgada com mais de 60%. Quem sabe se o reencontro não se faz à direita?
- Marine LePen, filha do líder da Frente Nacional, falhou a eleição numa circunscrição do Pas-de-Calais, confirmando a ausência do partido da Assembleia Nacional. Apesar disso, o resultado é deveras significativo, tendo a candidata da FN recolhido mais de 40% dos votos.
- Finalmente, mais um desaire para Allain Juppé, que não consegue ser eleito. O antigo primeiro-ministro, um dos poucos indefectíveis de Chirac no governo de François Fillon, no qual era ministro de Estado, do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (e n.º 2 do executivo) vem somar mais uma derrota ao seu catastrófico currículo político recente (derrota eleitoral nas legislativas de 97, condenação por corrupção com inibição de direitos políticos por um ano e incapacidade de tomar conta da UMP, travando Sarkozy). Fillon fizera saber que quem fosse derrotado nas legislativas não poderia continuar em funções, por falta de apoio popular expresso nas urnas. Apesar de ser embaraçoso perder o n.º 2 do executivo, algures no Eliseu cheira-me que deve haver um sorriso nos lábios de Sarkozy...
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