segunda-feira, abril 30, 2007

Ainda o 25 (para rematar o ciclo bloggicioso)

Após o desfile da Avenida, na quarta-feira passada, os elementos do grupo de bloggers já aqui aludido anteriormente reflectiam, na Rua António Maria Cardoso, que, se vivessem há mais de 60 anos, seriam provavelmente militantes do Partido Comunista, mesmo que para mais cedo ou mais tarde se demitirem ou serem expulsos. Não havia, de facto, alternativa para desenvolver uma acção política consequente, desmobilizada e desorganizada que estava a oposição democrática, e perante o desânimo da primeira república.

Se foi assim na esquerda, pior foi na direita. Durante 48 anos, qual eucalipto, o regime reaccionário que existiu secou tudo à sua volta, não deixando espaço para o desenvolvimento de uma direita crítica e consistente, como a que se desenvolveu em França em torno do General de Gaulle. Essa atitude ajuda a explicar um certo alheamento da direita em relação ao 25 de Abril: de facto, a direita mais representativa no plano político português ou está demasiado presa às pouco recomendáveis referências cívicas do antigo regime, ou é composta por militantes que se identificam mais por reacção do que por afirmação positiva, ou por serem contra o deboche activista da esquerda (e eu debochado me confesso), ou por permanecerem amargurados com as consequências pessoais do PREC ou da descolonização.

O 25 de Abril é, entre outras coisas, um momento de libertação do obscurantismo que não é património exclusivo de qualquer família política. Esse património de liberdade é pertença de quem se reveja nos valores nucleares do regime, e pode ser acolhido por uma direita, liberal ou conservadora, europeia (que não necessariamente europeísta) ou não, em suma, por uma direita que não viva voltada para si própria, disposta a aceitar o compromisso democrático, e que se possa constituir como verdadeiro contraponto ideológico e não como uma mera agremiação dedicada à exploração política de determinados tópicos de uma agenda política maleável à vontade dos interesses do momento.

P.S.: O cravo na lapela também não tem dono. É um símbolo e um ícone. Não caiem os parentes na lama a ninguém por o usar.

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