Eu volto a insitir em concordar com aqueles que entendem que a eleição de Salazar tem raízes na perda de memória colectiva e num desivestimento numa educação para os valores da liberdade (claro que também tem raízes em votações organizadas por franjas radicais e no desinteresse da esmagadora maioria dos portugueses em entrar no exercício bacoco de escolher o "melhor de sempre" - o que me lembra de uma pastelaria em Campo de Ourique denominada "O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo").
A falta de percepção do que significaram a privação da liberdade por mera discordância ideológica, a proibição da expressão da opinião e do produto do pensamento livre, a selecção moraleira dos conteúdos conformes ao bem comum (competia ao Estado, na letra da Constituição de 1933, defender a opinião pública de todos os factores que a desorientem) e o recurso à guerra para manter o relógio da descolonização parado, contribui para uma menorização do carácter opressivo e castrador do período ditatorial.
Neste contexto, é depois inevitável que surjam raciocínios que querem ainda identifcar traços positivos no regime deposto, pesando o bom e o mau do Estado Novo e concluindo por balanços intermédios, axiologicamente relativizadores. Balanços intermédios, acrescente-se, que pecam sempre por sobrevalorizar as putativas vantagens do salazarismo, uma vez que desenvolvimento humano e económico sustentável não é matéria pela qual prime o regime anterior ao 25 de Abril... (para além de que está ainda por demonstrar que o eventual progresso da sociedade portuguesa só seria alcançavel com mão de ferro e com o paternalismo de Estado).
A resposta está ao nosso alcance. Está ao nosso alcance na valorização da memória pública, no reforço do ensino da História mas também, e fundamentalmente, na implementação da educação para a cidadania, para os valores da democracia e da liberdade, nos currículos escolares. Só assim conseguiremos finalmente tirar o quadro de Salazar da parede e arrumá-lo no armazém da História.
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