Há dois anos fui pela última vez à Festa do Avante!, e de lá para cá só não fui mais porque não calhou. Não ia lá pelo partido, que não é meu, mas certamente que não iria a uma festa do mesmo género do PSD ou do CDS. O pessoal de esquerda tem coisas destas, de se entender em convívio, mesmo que não se entenda em política, mesmo que a esquerda seja tradicionalmente mais inclinada a divisões e a diferenças estranhamente insuperáveis.
Há muita coisa interessante na Festa do Avante!, mas também há muita coisa que não devia lá estar - por exemplo, o posto de turismo montado pelo PC Cubano, ou o stand comercial do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte, representação esta que considero particularmente infeliz (na altura o stand era composto por um asiático e três ou quatro portugueses porque, segundo me informou fonte insuspeita do partido, os coreanos tinham o hábito pouco revolucionário de fugirem e nunca mais serem vistos). Há dois anos constatei com particular revolta a presença institucional das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Não era uma representação agregada a um partido comunista, como este ano, era uma presença própria e autónoma.
Quando um casal de jovens do partido me abordou para assinar o Avante!, não desarmaram depois de lhes dizer que, apesar de gostar do jornal e de já o ter comprado, não era do partido, nem simpatizante, e não tinha intenção de o assinar. Responderam que isso não era impedimento e que até o Pacheco Pereira era assinante - como quem diz que até esse assina. Como não levavam nada de mim, perguntaram o que achava da Festa, e aí disse tudo.
O que os militantes comunistas respondem invariavelmente, estes e os outros meus amigos, é que devemos ouvir o ponto de vista deles para formularmos melhor um juízo. Este argumento é válido do ponto de vista da lógica estritamente formal, mas, como lhes respondi, eu não preciso de ouvir exaustivamente o ponto de vista de um radical islâmico para formular um melhor juízo de opinião sobre o que ele defende.
O sururu que agora se formou à volta da revista que o PC Colombiano distribuía na edição deste ano da Festa do Avante! apenas peca pelo atraso de pelo menos dois anos, e a resposta do PCP reflecte a espiral de negação da realidade em que o partido mergulhou. As FARC são criminosas e terroristas porque o seu modus operandi envolve o narcotráfico (ainda que, de forma jocosa e irónica, um amiogo meu comunista observasse que «não há imoralidade em fornecer droga À juventude burguesa do ocidente decadente») e o sequestro, e não porque isso resulte de declaração dos EUA ou da UE. Mas para o PCP basta que os Estados Unidos se declarem contra isto ou aquilo para que isto ou aquilo seja acolhido e acarinhado. Do mesmo modo procede Hugo Chavez quando estende a mão a Lukashenko e a Ahmedinejad. O comunismo transformou-se na religião do contra, escolhendo lados da barricada sem propor um caminho próprio, como se não houvesse alternativa. É a estratégia de sobrevivência que não aproveita a ninguém.
Há muita coisa interessante na Festa do Avante!, mas também há muita coisa que não devia lá estar - por exemplo, o posto de turismo montado pelo PC Cubano, ou o stand comercial do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte, representação esta que considero particularmente infeliz (na altura o stand era composto por um asiático e três ou quatro portugueses porque, segundo me informou fonte insuspeita do partido, os coreanos tinham o hábito pouco revolucionário de fugirem e nunca mais serem vistos). Há dois anos constatei com particular revolta a presença institucional das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Não era uma representação agregada a um partido comunista, como este ano, era uma presença própria e autónoma.
Quando um casal de jovens do partido me abordou para assinar o Avante!, não desarmaram depois de lhes dizer que, apesar de gostar do jornal e de já o ter comprado, não era do partido, nem simpatizante, e não tinha intenção de o assinar. Responderam que isso não era impedimento e que até o Pacheco Pereira era assinante - como quem diz que até esse assina. Como não levavam nada de mim, perguntaram o que achava da Festa, e aí disse tudo.
O que os militantes comunistas respondem invariavelmente, estes e os outros meus amigos, é que devemos ouvir o ponto de vista deles para formularmos melhor um juízo. Este argumento é válido do ponto de vista da lógica estritamente formal, mas, como lhes respondi, eu não preciso de ouvir exaustivamente o ponto de vista de um radical islâmico para formular um melhor juízo de opinião sobre o que ele defende.
O sururu que agora se formou à volta da revista que o PC Colombiano distribuía na edição deste ano da Festa do Avante! apenas peca pelo atraso de pelo menos dois anos, e a resposta do PCP reflecte a espiral de negação da realidade em que o partido mergulhou. As FARC são criminosas e terroristas porque o seu modus operandi envolve o narcotráfico (ainda que, de forma jocosa e irónica, um amiogo meu comunista observasse que «não há imoralidade em fornecer droga À juventude burguesa do ocidente decadente») e o sequestro, e não porque isso resulte de declaração dos EUA ou da UE. Mas para o PCP basta que os Estados Unidos se declarem contra isto ou aquilo para que isto ou aquilo seja acolhido e acarinhado. Do mesmo modo procede Hugo Chavez quando estende a mão a Lukashenko e a Ahmedinejad. O comunismo transformou-se na religião do contra, escolhendo lados da barricada sem propor um caminho próprio, como se não houvesse alternativa. É a estratégia de sobrevivência que não aproveita a ninguém.
3 comentários:
Para sua informação o PC Colombliano não distribuía a revista “Resistência” na Festa do Avante, fez este ano (o que aliás sempre fez), tinha-a lá para quem a quisesse comprar.
E quanto ao modus operandi das FARC deixo-lhe este comunicado recente e o link para esta interessante entrevista com Maurice Lemoine, journaliste et rédacteur en chef adjoint au Monde diplomatique:
http://risal.collectifs.net/article.php3?id_article=1365
Acerca dos cultivos ilícitos na Colômbia
por FARC-EP
1- A partir da campanha militar contra os cultivos de coca empreendida pelo governo na Serra da Macarena, o sistema noticioso da cadeia de rádio Caracol tornou a afirmar, sem nenhum fundamento, que as referidas plantações são propriedade das FARC.
2- Tanto sua equipe jornalística, como a opinião nacional e a comunidade internacional sabem de ciência certa da gravíssima problemática social do país que obrigou centenas de milhares de camponeses e cidadãos a refugiarem-se na economia dos cultivos ilegais para sobreviver.
3- É do conhecimento público a proposta integral que expusemos no Caguan de avançar numa área concreta um experimento a fundo de "Substituição de cultivos" procurando horizontes certos para as famílias que não encontraram alternativa.
4- As FARC-EP não semeiam, nem têm cultivos, nem processam, nem transportam nem muito menos comercializam qualquer classe de narcóticos nem de produtos psicotrópicos.
5- Estamos convencidos de que a batalha contra o cancro do narcotráfico só será ganha definitivamente se se conceber uma estratégia mundial que inclua a legalização destes produtos, porque acabaria de uma vez com os lucros fabulosos que gera.
6- Na Serra da Macarena, assim como em todo o território nacional, o que existe é uma confrontação militar permanente entre a força pública oficial e a guerrilha revolucionária das FARC, na qual a polícia e o exército utilizam como carne de canhão e como escudo a população civil. Os senhores sabem disso muito bem, ainda que normalmente o silenciem.
7- O Estado, que não pode ocultar o fracasso do Plano Patriota, pretende, mais uma vez, culpar dos seus próprios vícios os combatentes da causa popular. O parque natural de La Macarena extingue-se em consequência da ampliação do latifúndio pecuarista, do narcotráfico, da inexistência de uma reforma agrária favorável ao camponês e da deslocação interna.
8- Acusações sistemáticas e infundadas desvirtuam a afirmação constante dos mais destacados jornalistas da Caracol acerca da sua permanente disposição para servir à causa da solução política do conflito.
Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, Setembro de 2006
O original encontra-se em http://listas.nodo50.org/cgi-bin/mailman/listinfo/diariodeurgencia
Este comunicado encontra-se em http://resistir.info/ .
PS: E confesso que não entendo minimamente a amalgama que faz de comunismo com Hugo Chavez, Lukashenko e Ahmedinejad. É que é público e notório que nenhum deles foi alguma vez comunista.
Caro João,
Do ponto de vista de quem é de centro-direita - como eu -, não posso deixar de subscrever este teu post.
Um Abraço Amigo e continuação de boas postagens,
António Jorge Lopes
PS(D) - Linkei o V/ blog no meu (http://ajorgelopesdirecto.blogspot.com)
Cara Margarida,
Quanto à dúvida que coloca em post scriptum a resposta é simples - o raciocínio que o João desenvolveu é claro e não passa por afirmar que Chavez, Lukashenka ou Ahmadinejad sejam ou tenham sido comunistas. O que se pretende é comparar um modus operandi análogo, que passa pela geminação de organizações anti-americanas pelo mero facto de partilharem essa característica.
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