quarta-feira, julho 19, 2006
"Orgia sádica de violência bélica" - nao, nao e' o Darfur
De acordo com Vital Moreira, escrevendo no seu blog Causa Nossa:
"no final desta orgia sádica de violência bélica contra um país indefeso, que deixará o Líbano em ruínas, a única coisa que Israel não conseguirá destruir é justamente o Hezbollah (que, como todos os movimentos elusivos, não precisa de infra-estruturas próprias)."
E' sempre util a opiniao de um especialista na regiao. Mas afinal o Libano e' um 'pais indefeso', ou os destinos daquele pais tem sido dominados por um 'movimento elusivo'? O Hezbollah precisa de infra-estruturas proprias e tem infra-estruturas proprias. O Hezbollah, por exemplo, domina todo uma area do sul de Beirute, onde se encontra o QG do movimento. Ou encontrava. Ha coisa mais sadica do que enviar centenas de misseis para dentro de centros urbanos civis, sem qualquer metodo, como o faz o Hezbollah (especialmente contra Haifa - na fotografia, em tempos mais pacificos)? La por Israel ter a' sua disposicao um arsenal militar consideravel, isso nao significa que os civis do norte de Israel nao morrem, nao fogem para o sul, e nao vivem em abrigos. Nao me lembro de Vital Moreira e outros se queixarem da presenca militar ocupante da Siria no Libano durante 16 anos...
Mas no meio da parcialidade bocal (a ler com cedilha que me falta neste teclado), Vital Moreira nao deixa de apontar para uma questao interessante. Depois de ter estado presente durante tantos anos no sul do Libano (ate' 2000) e de nunca ter conseguido neutralizar o Hezbollah, qual e' o plano de Israel agora? E porque e' que ha-de funcionar desta vez...
Desta vez, Israel quer alterar o equilibrio estrategico na regiao. A libertacao dos
dois soldados capturados pelo Hezbollah nao e' a prioridade a longo prazo - antes importa a Israel por fim ao status quo ante que incluia a presenca activamente hostil do Hezbollah na fronteira norte de Israel. Israel neste momento esta a testar a que ponto o Irao e a Siria estao interessados em manter o apoio ao Hezbollah. Para alem disso, Israel conta com a pressao dos outros grupos libaneses (drusos, sunitas e cristaos) para enfraquecer o Hezbollah.
Parece-me uma estrategia arriscada e maximalista: nada mais nada menos do
que neutralizar o Hezbollah de uma vez por todas.
Mas atencao as declaracoes vindas de Damasco: os sirios parecem estar com pouca vontade em arriscar seja o que for para salvar o Hezbollah. "The Syrians will fight Israel until the last Lebanese" dizia ha dias um analista israelita. Israel esta a por isso a prova.
Aqui em Israel: desalento, cansaco, mas tambem conformismo e algum consenso que outra solucao - accao militar - era dificil de imaginar. Estive recentemente com Anat Saragusti (jornalista do segundo canal da televisao israelita e mulher de esquerda) que me confirmou isso: a esquerda israelita,incluindo inicialmente figuras iconicas como Yossi Beilin, sente que Israel foi arrastado para dentro disto e que agora ha que tentar por fim a ameaca que o Hezbollah representa para as comunidades do norte do pais e nao so. 80% dos israelitas apoiam a accao militar. Num recente volte face Yossi Beilin apela agora a negociacoes, mas nao se percebe muito bem com quem e sobre que...
O principal que ha a reter e' que Israel nao esta com pressa para aceitar um cessar fogo. Trata-se agora de enfraquecer o mais possivel o Hezbollah, ao mesmo tempo que se poe a prova o grau de envolvimento de Damasco e Teerao. Se, como espera Israel, na hora H, Irao e Siria ficam quietos, talvez os dias em que o Hezbollah significava uma ameaca estrategica para Israel tenham chegado ao fim. Talvez depois de se ter demonstrado que Damasco e Teerao nao vao para a guerra por causa do Libano, a dinamica interna libanesa mobilize forcas para domar o movimento xiita.
Por aqui chovem katyushas em Haifa. Na praia em Tel Aviv veem-se os helicopteros a ir e vir do Libano, no norte as pessoas vivem em bunkers, foram mobilizadas algumas unidades das reservas. Parece haver, por enquanto, pouco apetite para uma invasao terrestre em grande escala, mas se caem misseis em Tel Aviv, all bets are off, tudo e'possivel. A televisao e os jornais israelitas nao param de mostrar imagens das ruinas no Libano e nao se ve em lado nenhum um ambiente de entusiasmo a volta desta guerra.
Entretanto os civis de ambos os lados vao morrendo, e o Libano esta de rastos.
Mas as minhas perguntas para o Vital Moreira e outros: que alternativas? Negociar com quem? Porque e' que o Hezbollah decidiu atacar? O que e' que esperavam de Israel? O que faria um estado europeu numa situacao comparavel? O que acham que fariam os estados arabes se tivessem o arsenal a disposicao de Israel? Ja pensaram nisso? Quanto tempo sobreviveria Israel se nao fosse a sua superioridade belica?
Lembro que no dia em que o Hezbollah atacou a patrulha militar israelita em territorio israelita, no mesmo dia, algumas horas antes, cairam os primeiros misseis nas cidades do norte de Israel.
Que fazer numa situacao destas?
Ficam aqui os contactos do MNE israelita, ja que toda a gente parece querer dar conselhos:
Ministry of Foreign Affairs
9 Yitzhak Rabin Blvd.
Kiryat Ben-Gurion
Jerusalem 91035
Tel. 972-2-5303111
Fax 972-2-5303367
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