sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Proudhon

Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), na sua obra-prima 'O que é a propriedade?' desmonta de forma brilhante todas as ideologias com que se costumava legitimar a existência da propriedade privada. Podemos concordar hoje em dia que a propriedade privada é uma invenção útil, uma fantasia que faz parte do nosso dia-a-dia como qualquer outro elemento do quotidiano. Mas Proudhon continua a ser útil na maneira como desconstrói os mitos religiosos, sociológicos e económicos que, a dada altura no século XIX (em Inglaterra mais cedo) elevaram a propriedade a religião.

Uma das histórias que Proudhon usa para explicar porque é que o trabalho não pode ser comprado em troca de salários é a seguinte (estou a parafrasear, mais do que a citar - os detalhes são inventados, já que a memória me falha): quando Bonaparte veio do Egipto, trouxe um obelisco. Naquela altura era assim, gamava-se os monumentos do pessoal estrangeiro. Enfim. 64 grenadeiros, veteranos das Pirâmides, demoraram uma semana a montar o colosso de pedra em Paris. Proudhon pergunta se um grenadeiro sozinho seria capaz, se lhe déssemos 64 semanas, de montar o obelisco. A resposta é não. O trabalho colectivo representa muito mais do que a soma de tarefas individuais. Remunerar trabalhadores individualmente através de salários, significa trocar o valor acrescentado produzido pelo trabalho colectivo por uma soma de parcelas salariais individuais.

Este fim-de-semana, quando estiver na Place de la Concorde ao lado do obelisco, com a Assemblée Nationale à minha esquerda, o Jardim das Tulherias nas minhas costas e os Campos Elíseos a conduzirem o meu olhar para o Arco do Triunfo, vou-me lembrar de Proudhon e do facto da grandeza da França ser acima de tudo um produto das ideias que emanaram de Paris, cidade da Luz, mãe da República.

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