terça-feira, fevereiro 21, 2006

Figaro, Mozart, Beaumarchais e Da Ponte

Na passada semana tive o enorme prazer de assistir no Scala de Milão a uma encenação memorável da Ópera “As Bodas de Fígaro” do aniversariante Mozart com um Libreto excepcional de Lorenzo Da Ponte baseado num texto revolucionário de Beaumarchais.

Quando Mozart celebra o seu 250 aniversário é importante lembrar uma faceta deste compositor que, não sendo tão explicitamente adepto dos ideais da Revolução como Beethoven, teve a coragem de levar à Viena feudal de 1786, três anos antes d’A Revolução Francesa, uma ópera baseada num texto incendiário de Beaumarchais que tinha na versão inicial frases como esta de Figaro ao conde:
“Por ser um grande fidalgo, o senhor acredita ser um grande génio [...] O que fez para possuir tantos bens? Deu-se apenas ao trabalho de nascer e nada mais" ou ainda esta chave de encerramento do texto "Por obra e graça do nascimento, um é rei, o outro pastor, o acaso criou a distância, apenas o espírito pode mudar tudo". Muito já se exagerou sobre a influência deste texto no despoletar da Revolução mas... Não sentem também um arrepio na espinha?

Apesar destas frases de maior impacto não constarem do libreto de Da Ponte este libretista livrepensante libertino e amigo de Casanova conseguiu, não só manter o fervor revolucionário do texto original de Beaumarchais, como criar o que é considerado por muitos um dos melhores e mais deliciosos enrredos da história da Ópera que se desenvolve num conjunto de enganos e desenganos em torno do da vitória de um noivo de condição inferior (Figaro) num desafio claro ao seu senhor (o Conde) que tenta exercer em vão o direito de Prima Nocte.

Mozart demonstrou claramente, ao pôr Viena a trautear hinos de desafio ao poder da Nobreza como a primeira ária de Figaro: "se quer bailar , senhor condezinho", que não só este compositor não era um castrati, como tinha umas balls pelo menos do tamanho das que Graeme Souness atribuía a Michael Thomas e também que, se não é clara a sua aderência incondicional aos ideais republicanos, prova-se que partilhava uma grande desconfiança relativamente ao sistema instituído.

1 comentário:

Davi Reis disse...

Pepper, não esqueçamos que a arte que não critica, questiona, duvida, foge ao instituído, não é a Verdadeira Arte, a sublime... Quanto ao direito de prima nocte, se acaso vivesse nesse período, posso dizer que ou não casava ou fugia para me casar. E ninguém no seu perfeito juízo argumentaria razoavelmente com o seu senhor a exclusividade da sua esposa. Se o fizesse, legitimava a loucura. Ah!, e fizeste-me pensar: talvez esteja encontrada a explicação para a incapacidade futebolística do Michael Thomas: os seus balls. Bem me parecia que ele jogava de perna aberta. O único da leva Souness que se aproveitava ainda era o Scott Minto.

;)

Keep on blogging!

Aquele abraço