O país acordou hoje em ânsias de saber pormenores da notícia que estourou ainda ontem sobre o arrojo - ou desfaçatez, consoante a perspectiva - do patrão da Sonae em querer açambarcar a PT, num negócio privado que envolve o equivalente à soma de dois aeroportos da Ota e um TGV (dados do Público).
Pessoalmente, acho um bocado parolo este culto da personalidade à volta do Belmiro self-made man, homem empreendedor e destemido, jogador exímio e negociante astuto.
Não me entendam mal. Enquanto empresário, acho que Belmiro foge um pouco ao estereótipo do empresário português choramingas e dependente, pronto a vender-se pela melhor oferta e à primeira solicitação - ele não se fica e vai a todas; ele não quer só engrossar o bolo para o vender e pôr-se ao fresco (como Champallimaud e o Totta); ele olha para a frente e não se interessa com quem vai ao lado, o que é a melhor maneira de deixar a concorrência para trás.
Talvez seja só o meu âmago de republicano de esquerda a falar por cima de tudo, mas este modelo de empresário ultra-pragmático não é o tipo de heroísmo que me aqueça o espírito, se é que de heroísmo se trata realmente. Tanto mais que, como ouvi ainda agora o delfim Paulo de Azevedo dizer, esta gente não se cansa de enfatizar o seu próprio dinamismo e empreendedorismo enquanto valores, quando acho que o valor deve estar nos objectivos - logo, no discurso legitimador, a ênfase deve ser colocada no objectivo, não nos meios, o que de outro modo resulta um pouco a provincianismo auto-convencido.
Mas até a um republicano de esquerda old school como eu, a história deste negócio tem pormenores de inescapável interesse
Primeiro, a delícia que está no mero aspecto formal da jogada: independentemente de qualquer ulterior consideração, esta é uma movimentação de jogador velhaco. É como o corredor que arranca nos últimos 20 km da Maratona e obriga todos os outros a virem atrás. Em termos de táctica de guerra, delicioso. Só antecipar qual será a reacção da concorência é entusiasmante.
Segundo, a mera perspectiva de alguém ter tanto dinheiro ou crédito para gastar na operação: é aquilo que entusiasma o português que gasta no Euromilhões mais do que devia, definitivamente a colocar Belmiro na galeria de portugueses excelentíssimos do português comum, mesmo ao lado de José Mourinho.
Terceiro, a perspectiva estarrecedora de ver tanto poder nas mesmas mãos: ainda que previsivelmente a Sonae seja obrigada a vender uma operadora de telemóveis, o império da PT nas comunicações somado à rede da Sonae é uma nebulosa em formação que ameaça tapar tudo à volta.
Giro, giro, será ver os restantes barões a esgatanharem-se para não ficarem por baixo. Pelo menos o circo há-de ser divertido.
Pessoalmente, acho um bocado parolo este culto da personalidade à volta do Belmiro self-made man, homem empreendedor e destemido, jogador exímio e negociante astuto.
Não me entendam mal. Enquanto empresário, acho que Belmiro foge um pouco ao estereótipo do empresário português choramingas e dependente, pronto a vender-se pela melhor oferta e à primeira solicitação - ele não se fica e vai a todas; ele não quer só engrossar o bolo para o vender e pôr-se ao fresco (como Champallimaud e o Totta); ele olha para a frente e não se interessa com quem vai ao lado, o que é a melhor maneira de deixar a concorrência para trás.
Talvez seja só o meu âmago de republicano de esquerda a falar por cima de tudo, mas este modelo de empresário ultra-pragmático não é o tipo de heroísmo que me aqueça o espírito, se é que de heroísmo se trata realmente. Tanto mais que, como ouvi ainda agora o delfim Paulo de Azevedo dizer, esta gente não se cansa de enfatizar o seu próprio dinamismo e empreendedorismo enquanto valores, quando acho que o valor deve estar nos objectivos - logo, no discurso legitimador, a ênfase deve ser colocada no objectivo, não nos meios, o que de outro modo resulta um pouco a provincianismo auto-convencido.
Mas até a um republicano de esquerda old school como eu, a história deste negócio tem pormenores de inescapável interesse
Primeiro, a delícia que está no mero aspecto formal da jogada: independentemente de qualquer ulterior consideração, esta é uma movimentação de jogador velhaco. É como o corredor que arranca nos últimos 20 km da Maratona e obriga todos os outros a virem atrás. Em termos de táctica de guerra, delicioso. Só antecipar qual será a reacção da concorência é entusiasmante.
Segundo, a mera perspectiva de alguém ter tanto dinheiro ou crédito para gastar na operação: é aquilo que entusiasma o português que gasta no Euromilhões mais do que devia, definitivamente a colocar Belmiro na galeria de portugueses excelentíssimos do português comum, mesmo ao lado de José Mourinho.
Terceiro, a perspectiva estarrecedora de ver tanto poder nas mesmas mãos: ainda que previsivelmente a Sonae seja obrigada a vender uma operadora de telemóveis, o império da PT nas comunicações somado à rede da Sonae é uma nebulosa em formação que ameaça tapar tudo à volta.
Giro, giro, será ver os restantes barões a esgatanharem-se para não ficarem por baixo. Pelo menos o circo há-de ser divertido.
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