quarta-feira, janeiro 25, 2006

A propósito de eleições com resultados desagradáveis...




Desculpem lá se apesar de tudo ando a vibrar mais com as eleições na Palestina...
Grande questão: que fazer no caso de o Hamas vir a fazer parte do executivo palestiniano, ou mesmo só se aquela organização extremista se tornar numa das forças políticas principais nas instituições da Palestina? Dilema sério... Como lidar com um movimento que pretende islamizar a Palestina - uma sociedade árabe conhecida pela sua laicidade - e destruir Israel; um movimento que foi responsável por centenas de mortos civis em atentados suicidas.

Como podem ver aqui, há muitas e boas ideias para integrar o Hamas na vida política palestiniana, de forma a eventualmente transformar este inimigo figadal de Israel num parceiro para negociações. Não é para amanhã, nem para daqui a um ano. Mas numa altura em que do governo israelita cada vez mais se ouvem sinais razoáveis no que toca a futuras retiradas dos Território Ocupados, e em que o Hamas tem mais ou menos cumprido a Tahdia (tréguas) com Israel durante 2005 e moderado a retórica, temos direito a sentir algum optimismo no ar.

Se é difícil imaginar o Hamas à mesa com Israel, pensem nas relações entre este país e a OLP nos anos 70: agora todos rezam em Tel Aviv para que a Fatah ganhe as eleições - como mudaram as coisas numa geração... Como dizia Robert Malley, director do programa do Médio Oriente do International Crisis Group em Bruxelas recentemente, não se admirem se daqui a uns anos - do nada - descobrirmos que Israel e o Hamas andavam há que tempos a dialogar e chegaram a uma plataforma negocial. Não temos que gostar deles para nos sentarmos a uma mesa com eles.

(Só um pequeno aparte: a Direita israelita finalmente vai aceitando aquilo que a Esquerda vem considerando inevitável há 10 anos: Israel tem que se retirar da maior parte dos Territórios Ocupados de uma vez por todas; o grande debate doméstico em Israel neste momento tem a ver com o timing e as condições dessa retirada e a eterna questão de Jerusalém; a Esquerda está preparada a abrir mão de todos os bairros árabes de Jerusalém Oriental (excluindo a Cidade Antiga, com o Kotel [Muro das Lamentações]), enquanto a Direita fala de manter o controlo sobre toda a área de Jerusalém: dêem-lhes tempo; ainda há dois anos, Sharon dizia que mais cedo retirava de Tel Aviv do que de Gaza... Ah! E quanto ao 'Muro da Vergonha', medida eminentemente razoável para separar dois povos que pura e simplesmente não podem viver lado a lado, existe um consenso em Israel sobre a necessidade imperiosa de concluir a sua construção; é preciso, isso sim, é garantir que o Muro percorre um trajecto, se não idêntico, então o mais sobreposto possível com as fronteiras de '67).

Pois é, inimigos de Israel out there, preparem-se para tempos em que a demonização do Estado Judaico vai exigir muito mais imaginação e zelo. Mas para os mais apaixonados entre vós, não é uma concessão aqui, ou uma moderaçãozinha ali, que vos vais tirar o gosto de odiar o Mau da Fita-Fetiche. Desculpem lá o veneno.

7 comentários:

HB disse...

Falta o ligeiro detalhe de referir que o muro foi obra desses bandidos da Direita. De resto, neste momento o optimismo é a única opção, mesmo que não seja a mais realista.

Oppenheimer disse...

Henry, o muro foi pretty much um projecto nacional. Os 'bandidos da Direita' queriam construí-lo como se os palestinianos não existissem, não tivessem terras de cultivo, não precisassem de acesso a serviços sociais etc. Os tribunais e a pressão da esquerda têm imposto - e vão continuar a impôr - as correcções necessárias. E quanto ao optimismo, é verdade que é a única opção. Para todos os efeitos, a opção militar está lá sempre e o Hamas tem todo o interesse em se portar bem, sob pena de voltarmos aos dias em que os líderes do movimento não punham o nariz fora da porta.

A. Cabral disse...

Eles planeiam retirar dos territorios ocupados mas nao para o mapa pre-67, esta la o muro para garantir uma nova reparticao da terra. Uma paz destas vai podre.

A. Cabral disse...

A correccao necessaria ao muro e' retira-lo.

Oppenheimer disse...

Eu também gostava que não houvesse e que não fosse necessário o muro. Como também gostava que, em vez do Hamas, tivesse chegado ao poder na Palestina um governo social-democrata de modelo escandinavo. E que Rabin não tivesse sido assassinado. E que israelitas e palestinanos vivessem em paz, que se visitassem e que as crianças brincassem juntas.

A. Cabral disse...

Ha desejos que sao fantasias como querer um modelo escandinavo na Palestina, essa diria ate que uma fantasia perigosa. Nao me parece que a social democracia escandinava tenha universalidade cultural, politica ou economica para exportacao global. Mas pedir a queda do muro deixa de ser fantasia quando se torna o unico garante para uma paz justa e duradoura. Um povo palestiniano bantustizado nao sera um povo quieto, nao se pode impor a miseria e a humilhacao a um povo e querer que ele se acomode a esta.

A. Cabral disse...

Caro oppenheimer,

Noutro forum que ha pouco visitou deixei-lhe uma resposta.