A actualidade informativa portuguesa é marcada hoje pela triste notícia do falecimento de um militar integrado na missão portuguesa no Afeganistão. De imediato a comunicação social levantou a questão da manutenção das Forças Armadas portuguesas no terreno, tendo de imediato recolhido contributos nesse sentido de Francisco Louçã e do PCP.
Louçã defendeu que a presença no Afeganistão "é injustificada e injustificável", argumentando que "o regime de Cabul é um regime de senhores da guerra, traficantes e fanáticos". O comunicado oficial do PCP afirmou que os militares portugueses no Afeganistão participam "numa guerra injusta" e que "contraria os valores constitucionais".
O Afeganistão talibã representava uma visão medieval do mundo dotada de armamentos do século XXI e determinada em apoiar o esforço jihadista da Al-Qaeda. Não há aqui quaisquer dúvidas quanto à fiabilidade das informações recolhidas pelos serviços de informações, não houve manipulação de dados nem mentira deliberada e não há interesses económicos principalmente determinantes por parte da principal potência.
Assim sendo, só quem insiste em teimar numa visão demagogicamente antiamericana é que opta por não reconhecer que a intervenção no Afeganistão marcou um importante passo na luta contra o terrorismo internacional, foi legitimada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas e preparou-se num quadro multilateral e com amplo consenso internacional.
Claro que todos reconhecemos que o regime afegão não prima pela vitalidade democrática, que o controlo efectivo que exerce pouco se extende para lá de Cabul e que muito há ainda a fazer no combate aos grupelhos terroristas sobreviventes e aos produtores de estupefacientes. Mas daí à referência a guerra injusta e contrária aos valores constitucionais vai um passo inaceitável de manipulação populista.
6 comentários:
“... e não há interesses económicos principalmente determinantes por parte da principal potência.”
O Afeganistão fornece um acesso estratégico à região do Mar Cáspio que detém reservas de petróleo e de gás natural das mais importantes do mundo. Antes da queda do regime taliban, foram inúmeros os esforços da Administração americana junto dos aliados paquistaneses para que convencessem os seus vizinhos “estudantes de teologia” a deixarem passar os gasodutos através do Afeganistão, de modo a permitir o escoamento pelo Oceano Índico.
Ao atacar o Afeganistão para aí instalar um regime submisso (a colaboração directa do presidente Karzai com a CIA data de muito antes de 2001), um regime ainda por cima bem protegido pelas forças militares da NATO, os Estados Unidos só pretenderam estabelecer um novo contexto político que lhes permitisse exercer o controlo hegemónico da região. O que, aliás, não é muito diferente do que se passa no Iraque.
Esse controlo hegemónico é de tal modo evidente que só um cego poderá acusar de anti-americanismo a sua constatação.
Explicações mono-causais para as decisões estratégicas das grandes potências dizem mais sobre a postura ideológica de quem avança com a explicação do que sobre a realidade. Teorias tipo: "eles estão lá por causa do petróleo" etc. revelam muitas vezes uma espécie de legado intelectual de um marxismo abastardado em que se procura sistematicamente constatar uma sobredeterminação das decisões políticas por dinâmicas económicas. Diferentes elementos na mesma administração americana podem ter - e normalmente têm -motivações diferentes para escolher a mesma opção. Quanto ao Afeganistão, não há questão sobre a legitimidade da intervenção, a sua necessidade e a sua utilidade. Completamente diferente do Iraque.
Cunho de primariamente anti-americanas apenas as observações que pretendem transformar actuações objectivamente correctas, verdadeiramente multilaterais e conformes ao Direito Internacional em manifestações de imperialismo norte-americano.
Volto a realçar que não existem interesses económicos principalmente determinantes. Recomendo a comparação do investimento norte-americano no Iraque e no Afeganistão e uma busca pelas muitas Halliburtons associadas à reconstrução de ambos os países. Será fácil constatar que o grau de exploração não é remotamente comparável em ambos os casos.
Fui, sou e continuarei a ser fervorosamente crítico da intervenção ilegal e irracional no Iraque, bem como da triste participação portuguesa na ocupação.
No início da década de 90, os Talibãs, ainda antes de assumirem o controlo intransigente e fanático do Afeganistão, tiveram ajuda financeira dos Estados Unidos, com vista a estabilizarem o troço afegão da conduta de petróleo e gás natural, a ser explorada pela companhia petrolífera norte-americana Unocal. Após o período de anarquia que se seguiu à retirada Soviética e a subsequente subida ao poder dos "estudantes de teologia", a presença dos “infieis” americanos em solo afegão foi totalmente proscrita, comprometendo definitivamente a passagem do oleoduto a ligar o Cazaquistão e o Turquemenistão ao Paquistão. A alternativa seria o Irão, onde também não habitam propriamente os melhores amigos do Tio Sam.
Tornou-se assim imprescindível a promoção no Afeganistão de um novo governo que assegurasse o clima de estabilidade propício ao desenvolvimento da actividade das empresas petrolíferas. A mera captura de Bin Laden (que afinal nem sequer foi capturado!) não passou de um pretexto. Bin Laden já lá estava há muito tempo. Foram os americanos que o lá puseram e os seus campos de treino islâmicos eram conhecidos e apoiados por Washington, desde a altura da ocupação soviética.
Agora, poder-se-á dizer que é legítimo que se protejam os interesses petrolíferos neste mundo totalmente dependente do ouro negro. Até se poderá dizer que os americanos, numa atitude altruísta, sacrificaram os seus dólares e os seus soldados para assegurarem essa protecção, tão vital para o nosso mundo ocidental. O que já não é legítimo afirmar-se é que não há, nem houveram, interesses económicos estratégicos em jogo no Afeganistão.
Com palavras-chave como "Unocal", "Taliban", "Enron", "Cheney", por exemplo, o Google dá montes de informações adicionais.
Aqui é que estamos completamente em desacordo. Aliás concordo em tudo o que o JAM afirma. Não houve nem há guerras justas de uma superpotência sobre um outro qualquer País!Para o ocupar e lhe impor políticas, governos e bolsos vazios.
Abrir essa porta é destapar a panela dos horrores e da petrocleptomania. Quem se esquece das campanhas de intoxicação contra os talibãs? depois de os terem armado, financiado e treinado? O que JAM conta em relação à posição estratégica do Afeganistão para o transporte de várias riquezas estratégicas do interior da Ásia para os portos do Índico não é fantasia. Como não é fantasia a importância dos talibâs na redução da produção de droga. Já os Ingleses o tentaram e foram derrotados como o serão os novos invasores.
Não se trata de antiamericanismo primário nem de marxismo serôdio. É só a análise concreta duma situação real e com História.
Não vale a pena lançar epítetos para amedrontar os que não concordam convosco. Essa do tal Oppenheimer é simplesmente risível. A História não lhe vai dar razão, custe-lhe o que lhe custar.
Eu sei, a desporporção dos meios é grande e impressiona, a propaganda é massiva e permanente. Mas o pior é que os afegãos não concordam. Estão a ver? São uns ingratos.
Meu caro mf, nunca me passou pela cabeça amedrontá-lo, bloguista corajoso que é. Até porque perante a propaganda massiva e permanente a ques estamos sujeitos precisamos de heróis sem medo como você para nos abrir os olhos. Visite-nos mais vezes. Prometo continuar a fazê-lo rir.
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