Dois grandes amigos regressaram esta semana daquela boa benesse da União Europeia (coitadinha) chamada Programa Erasmus: um enfermeiro na Bélgica, um arquitecto em Barcelona. Na bagagem trazem as boas condições de estudo, as boas condições de trabalho e tecnológicas, a pacatez e educação dos belgas, o baixo custo de vida numa metrópole como Barcelona, a movida e a aparente inexistência de crise. Trazem os olhos cheios de cosmopolitismo, de uma vida melhor, da proximidade com a riqueza. Conto-lhes do arrastão, do défice, das greves, da contenção do governo, do boçalismo de Alberto João Jardim - nada de novo portanto. Mas ambos trazem saudades do povo português, do pacifismo, trazem saudades da crise, da falta de dinheiro, das suas próprias vidas. É verdade que na Bélgica há enfermeiros em quantidade suficiente, mas lá trabalha-se mais, com um trabalho nem sempre reconhecido pela comunidade, é verdade que em Espanha se vive mais e melhor, mas nenhum hesita em escolher Portugal para viver. Diz o pai de um deles, recém-promovido aos cinquenta anos, a quem aumentaram as responsabilidades e o horário de trabalho: Do que este país precisa é de produtividade, de quarenta e cinco horas semanais se for preciso. Um homem que trabalhou a vida inteira e que agora começou a trabalhar, como director, por objectivos, por mérito. Será pelo facto do empregador se ter tornado inglês?
Bebo as palavras dos meus amigos viajantes, que regressaram em paz. Quando é que aumenta o IVA? - pergunta um deles, e recosta-se no sofá vidrado na novela da Globo. Pareceu ver-lhe uma lágrima ao canto do olho - e não seria de tristeza.
quinta-feira, junho 30, 2005
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Com um pé numa galera e outro no fundo do mar.
Com a cara lavada em lágrimas estou eu, depois de contar o número de frequências que ainda tenho por corrigir...
Foi só para dar o ar da minha graça :)=
Beijos
Enviar um comentário