A esquerda moderna, progressista, que pugna por valores emancipadores, verdadeira herdeira dos valores laicos e republicanos que tão caros são aos autores deste blog, essa esquerda é fácil de encontrar: está em Espanha. Quanto mais acompanho os primeiros passos deste governo, mais temo que a liderança do PS tenha permanecido imune ao entusiasmo que grassa entre as forças progressistas ibéricas, e que tem as suas raízes na coragem do governo Zapatero em se dedicar aos temas da igualdade de género e dos direitos da comunidade gay.
Só alguns elementos para esclarecer o que acima foi dito (para um resumo fantástico da situação sugere-se a leitura do artigo da revista Visão de hoje, p.65): duas mulheres em 16 ministros; 3 mulheres em 36 secretários de estado. Porquê? Porque, aparentemente, segundo o PM, entre milhares de mulheres militantes socialistas e 5 milhões de portuguesas, não existem cidadãs com o mérito, a capacidade técnica e a visibilidade política necessárias para contribuir para um governo mais representativo.
Trata-se de um retrocesso em relação ao passado, uma distorção da presente realidade social do país, e, acima de tudo, uma oportunidade perdida para o futuro da modernidade portuguesa.
2 comentários:
Caro "Oppenheimer":
Sou um assíduo e entusiasta leitor do vosso blog do qual apenas tenho a fazer elogios. Contudo, desta vez, tenho de discordar da opinião expressa.
De facto, a "esquerda moderna, progressista, que pugna por valores emancipadores, verdadeira herdeira dos valores laicos e republicanos" encontra-se, paradigmatica e exemplarmente, em Espanha. Contudo, não creio ser indispensável ao Governo de Sócrates imitar Zapatero e dedicar-se de forma prioritária e urgente aos temas "da igualdade de género e dos direitos da comunidade gay". Sejamos sensatos e ponderados... esses são temas importantes mas delicados, fracturantes e polémicos. São temas importantes mas de forma alguma fundamentais.
A esquerda moderna e progressista, antes de se preocupar com essas mudanças, deve dedicar-se com afinco ao desenvolvimento económico, ao emprego, à exclusão, à pobreza, ao desenvolvimento sustentado...
Cada coisa no seu lugar e pela sua ordem. Espero que venham a ser temas abordados mas não nos primeiros 3 meses de legislatura.
Sem sermos demagógicos (os números são-o muitas vezes), em vez de contarmos o número de mulheres aqui e ali, vejamos o problema de forma honesta e global porque o problema tem uma origem muito maior: a minha associação de estudantes tem 1 presidente e 2 vice-presidentes. Todos homens. Na estrutura da juventude partidária em que participo, apenas os homens se chegam aos "lugares da frente": em 16 pessoas, 10 são mulheres mas o presidente e o vice-presidente são homens. Investigando mais alto nas estruturas da juventude (note-se... isto ocorre ainda nas juventudes), no secretariado nacional há 5 mulheres e 16 homens, na comissão nacional há 61 homens e 7 mulheres e os representantes da "jota" no partido são 17 homens e 3 mulheres. No bar da faculdade, apenas os homens discutem política.
Bom... é razão para nos perguntarmos, isso sim, por que é que as mulheres não se aproximam dos lugares de topo das estruturas políticas. Esse, sim, deve ser o debate. Por que é que as mulheres não participam? Como fazer aumentar a participação das mulheres?
Há mulheres válidas e competentes, claro que há, mas não sei se elas estão interessadas em "investir" numa "carreira" política. O Governo (que é um órgão executivo, não representativo) apenas reflecte a falta de participação das mulheres em todos os níveis.
Certo, as mulheres não aparecem nos lugares cimeiros por escolha própria...
O pior cego é o que não quer ver.
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