terça-feira, junho 12, 2007

Panteão Laico


Devido à programada trasladação dos restos mortais de Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional e à petição filo-monárquica que quer travar a iniciativa (a que o João já aludiu aqui), um post de João Miranda no Blasfémias perguntando se "ser a Assembleia da República a decidir quem deve ser sepultado numa igreja não viola o princípio da separação entre a Igreja e o Estado" alarga a discussão ao próprio conceito de Panteão.

De facto, há um entorse do princípio da separação, mas que não resulta da vontade do Estado utilizar o espaço de uma igreja para realizar cerimónias fúnebres, mas sim do facto de o Panteão Nacional não ter sido laicizado, à semelhança do que sucedeu, por exemplo, em França, quando o foi decidido que aquele seria o uso definitivo da antiga basílica de Santa Genoveva. No site do Centro dos Monumentos Nacionais francês, a evolução da utilização do edifício é descrita nos seguintes termos:

Laïcisé en 1791, il devint Panthéon national. Durant le 19e siècle, il reçut, au gré des régimes politiques, une affectation tantôt religieuse, tantôt patriotique. La Troisième République en fit un édifice consacré à la mémoire des hommes illustres à l’occasion des funérailles nationales de Victor Hugo qui y fut inhumé en 1885.

Conforme disse Rui Tavares num comentário ao post de João Miranda "o panteão nacional / igreja de santa engrácia foi iniciado num tempo em que o catolicismo era a religião única do reino e terminado com dinheiros públicos, já no fim da década de 1960. foi feito e pago pelo povo português, e não só pelos católicos. se há coisa que viola o princípio da separação é o facto de ainda ser uma igreja, mas se alguém propusesse que deixasse de o ser logo seria acusado de jacobinismo."

Não tenho medo do epíteto: PANTEÃO LAICO, JÁ!

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